Élio Gasda SJ
Eu só peço a Deus
Que a guerra não me seja indiferente
É um monstro grande e pisa forte
Toda pobre inocência desta gente (Léon Gieco).
A guerra não é um monstro do passado. O conflito entre Rússia e Ucrânia ocupa as manchetes dos principais veículos de comunicação em todo o mundo. Centenas de inocentes, civis, crianças e idosos já morreram! Cerca de 4 milhões podem deixar suas casas e o país para escapar da morte. O mundo já tem mais de 82 milhões de deslocados (Acnur-Agência das Nações Unidas para refugiados).
A Ucrânia vive uma tragédia humanitária. Os bombardeios aéreos na Síria e no Iraque provocaram a morte de milhares de civis. Contudo, há milhares de mortos e muito sofrimento em dezenas de conflitos em outras regiões do mundo. Mais de 28 países estão em guerra por territórios, por independência, por questões religiosas, por recursos naturais, etc. (Para ver outros conflitos em meio à guerra na Ucrânia, acesse mixvale.com.br)
Fome, destruição de cidades, miséria, doenças, desemprego. Os prejuízos humanos, econômicos e sociais são incalculáveis. Não há justificativa moral para a guerra. A defesa da paz exige a condenação da guerra. Quem está ganhando com as guerras? A indústria armamentista. Os fabricantes de armas aumentaram suas vendas. As maiores são dos Estados Unidos.
Enquanto líderes mundiais enviam jovens para morte, Francisco quer ouvir suas aflições, frustrações e, principalmente, suas soluções para problemas reais. O Papa acredita que a missão dos jovens é deixar, para as próximas gerações, um mundo melhor do que aquele que encontraram: “que as perguntas que a vida nos faz, que a cultura nos pede, que os problemas humanos nos pedem, sejam recebidos com a mente e com o coração, e que as respostas também sejam inteligentes, cordiais com o coração e pragmáticas com as mãos” disse o papa a estudantes católicos. “Essa é a vocação dos cristãos, construir pontes”!
Sim! Construir Pontes! O diálogo é um dos principais legados dos nove anos de pontificados de Jorge Bergoglio, completados em 13 de março. Quando se tornou o primeiro Papa jesuíta e latino-americano, recebeu uma difícil herança: escândalos de pedofilia no clero, dívidas, corrupção e tráfico de influência, e divisões na Igreja. Aos poucos, Francisco está conseguindo modificar algumas situações. Com seu olhar atento, e o desejo de promover a paz, enfrenta os grandes desafios das diversas realidades promovendo a cultura do encontro: “Somente esta cultura pode levar a uma justiça sustentável e à paz para todos, bem como a um autêntico cuidado por nossa casa comum.”
Argentino filho de imigrante italianos, é carismático e acessível, porém discreto. Mantem hábitos simples, carregando a alegria do Evangelho. Firme defensor da ecologia e da dignidade dos pobres, descartados e discriminados, Papa Francisco não escapa às críticas de conservadores e progressistas. Quer fazer da Igreja uma comunidade participativa através da sinodalidade, onde “todos são protagonistas”. É preciso deixar-se mover pelo Espírito Santo para “descobrir a geografia da salvação divina, abrindo portas e janelas, derrubando muros, rompendo correntes, libertando fronteiras”.
Em Fratelli tutti, Francisco ressalta a importância de se restaurar a fraternidade entre os povos. Para que haja paz e respeito, é fundamental a democracia, a liberdade e a justiça.
O documento afirma que “somos todos chamados a estar próximos uns dos outros, superando preconceitos e interesses pessoais. O amor constrói pontes e nós somos feitos para o amor”. “A melhor política” é aquela que se traduz na caridade e no amor social a serviço do bem comum.
A guerra é a pior das políticas. Francisco é promotor incansável da paz. A verdadeira paz “só se pode alcançar quando lutamos pela justiça através do diálogo, buscando a reconciliação e o desenvolvimento mútuo”. Para ele, “a guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal. Não fiquemos em discussões teóricas, tomemos contato com as feridas, toquemos a carne de quem paga os danos” (Fratelli tutti, 261).
Em meio a tantas guerras, Papa Francisco levanta sua voz: “Ouça o grito de quem sofre, e se ponha fim aos bombardeios e aos ataques…parem este massacre!” … “Quem faz a guerra esquece a humanidade. Não parte do povo, não olha para a vida concreta das pessoas, mas coloca diante de tudo os interesses de poder. Baseia-se na lógica diabólica e perversa das armas, que é a mais distante da vontade de Deus. E se distancia das pessoas comuns, que desejam a paz; e que em cada conflito – pessoas comuns – são as verdadeiras vítimas, que pagam as loucuras da guerra com a própria pele”.
Desejemos a paz. Lutemos pela paz todos os dias. O diálogo é a única forma racional para a paz. Que o dinheiro usado em armas seja revertido para acabar de vez com a fome no mundo.
“Nunca mais a guerra!”
Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE