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As novas inteligências artificiais e a Filosofia

Bruno Pettersen

Desde o final de 2021, modelos de Inteligência Artificial têm chamado grande atenção da mídia e sido alvo de debates acerca das implicações éticas, antropológicas e políticas devido à disseminação dessa nova geração de tecnologia.

Podemos destacar dois casos: O primeiro é o “Chat GPT” que é uma sigla para “Transformador Generativo Pré-Treinado de Conversas” (Chat Generative Pre-trained Transformer), pertencente à Open IA, que tem o objetivo de ser uma espécie de mecanismo com múltiplas funções, realizando desde pesquisas até tarefas de programação, mas que oferece as suas respostas em linguagem natural. O segundo, de uma empresa norte-americana de mesmo nome, é o Midjourney, que tem o propósito de gerar imagens a partir de solicitações escritas em linguagem natural.

A partir desse fenômeno, podemos nos perguntar: i. o que são essas novas inteligências? ii. elas realmente são inteligências? e iii. quais impactos sociais elas têm?

  1. O que são as inteligências artificiais?

De um modo direto, o Chat GPT e o Midjourney são modelos de Inteligência Artificial (IA) baseados no gerenciamento e na predição computacional de um grande volume de dados disponível em uma certa base de informações.

De uma forma mais simples, essas IAs têm acesso a informações disponíveis numa base de dados oferecida pelos programadores, e, no interior delas, os programas verificam os dados estabelecendo redes complexas de relações entre palavras, frases, textos, cores, imagens, filmes e tudo mais o que os dados da base disponibilizarem. Com essa pluralidade de dados e suas relações estabelecidas, a partir de um processo de predição com base nos usos anteriores, as inteligências artificiais são capazes de criar textos e imagens “novas” apoiados nas múltiplas relações anteriormente pesquisadas. Quanto mais pesquisas e correções forem feitas, mais e mais precisos ficarão os textos e as imagens criadas.

A grande novidade desses modelos de IA é que podemos interagir com eles usando “linguagem natural”, ou seja, a nossa fala comum. Por exemplo, podemos pedir que a IA pesquise sobre a biografia do “Papa Francisco”, solicitar uma pesquisa sobre a história dos Papas e, até mesmo, no caso do Midjourney, pedir para que ela faça uma imagem do Papa andando de skate (o que de fato foi feito).

  1. Elas são inteligências?

Os dois casos relatados acima, o Chat GPT e o Midjourney, são modelos de “Inteligência Artificial Fraca”, que indica que eles são incapazes de criar consciência do que se pesquisa, sendo aptas apenas a simular uma conversação com certa sofisticação em linguagem natural.

Quem já teve oportunidade de usar o Chat GPT, entre outras versões de IA, deve ter percebido que é possível manter uma conversa natural com essas inteligências e pedir que elas criem textos ou imagens que são novas. Bem, não são “novas”, porque são, em verdade, relações criadas a partir de textos e imagens previamente existentes. Não há criatividade da IA envolvida, mas apenas predição das entradas de dados mais frequentes.

Uma “Inteligência Artificial Forte” seria capaz de gerar consciência da pesquisa e não apenas relacionar fontes, passível de criar reflexões, que embora possam utilizar referências prévias, sejam capazes de extrapolá-las para caminhos ainda não previstos. Para quem tiver um interesse em se aprofundar no assunto, há um debate interessante em Filosofia da Tecnologia e da Mente, a partir de pensadores como John Searle (1932 – ) acerca da real possibilidade da IA forte.

Nesse momento, as inteligências artificiais são apenas de tipo “fraco”. Há grande incerteza sobre a possibilidade do surgimento do tipo “forte”.

iii. Quais são as implicações mais imediatas?

As implicações são variadas, algumas de cunho teórico, outras de cunho social. Quero destacar algumas dessas últimas:

  1. Com o progresso destas IA, profissões que apenas relacionam constantemente duas informações, mas sem a necessidade de criatividade, serão brevemente ultrapassadas em velocidade e em custo pelas IA. São profissões como caixas de supermercado, motoristas, entre outras. Como faremos? Utilizaremos essas tecnologias e teremos demissões cada vez mais constantes?
  2. A quem pertencem os dados? Como essas tecnologias usam informações disponíveis em bases de dados, as imagens e textos criados são gerados a partir de produção de pessoas que serão invisibilizadas e não apenas não ganharam o crédito intelectual, como também não o financeiro.
  3. Como a produção é baseada nos dados disponíveis na internet (ou outra base de dados), preconceitos e ideias problemáticas tendem a ser repetidas de modo acrítico. A produção que a maior parte das IAs realizarão, aos poucos passará a ser a maneira habitual pela qual essas IAs responderão. Por exemplo, os tipos de rostos mais comuns gerados pelas IA serão aqueles mais reproduzidos e aceitos por uma determinada cultura, sem nenhuma diversidade ou criticidade sendo apresentada.

Como a Filosofia pode se beneficiar dessas novas tecnologias, como o Chat GPT? O Chat GPT também pode ser uma fonte de inspiração para filósofos em termos de gerar novas ideias e perspectivas. Ao interagir com o Chat GPT, os filósofos podem ser confrontados com respostas e argumentos que não teriam considerado anteriormente, o que pode levar a uma expansão e aprimoramento de sua própria linha de pensamento. Por favor leitor, releia o que está em itálico. O texto não é meu. É do próprio Chat GPT, e eu não fiz nenhuma edição.

Nós, da Filosofia e da Teologia, temos que estar atentos ao desenvolvimento das IAs, não apenas pela curiosidade intelectual que elas evocam, mas também para as implicações sociopolíticas delas. Antes de ter medo das consequências ou ficar admirado pela facilidade e as possibilidades, devemos refletir sobre elas.

 

Bruno Pettersen é professor e pesquisador no departamento de Filosofia da FAJE

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