Bernard Lonergan: Filosofia e Teologia a serviço da Fé

advanced divider

Elton Vitoriano Ribeiro, SJ

Enfrentar não uma suposta crise da fé, mas da cultura, foi a tarefa assumida pelo pensador jesuíta Bernard Lonergan (1904-1984). Pouco conhecido no Brasil, Lonergan teve apenas suas duas principais obras publicadas em português: Insigth: um estudo do conhecimento humano (1957) e Método em Teologia (1972). No entanto, sua influência no mundo anglo-saxão, especialmente EUA e Canadá, foi muito grande. Seus estudos sobre Tomás de Aquino e o tomismo, Cristologia, Antropologia, Teologia Trinitária, caminham juntos com seus estudos sobre Educação, Economia, Epistemologia, Metafísica e Ética. A continuidade de seu pensamento e a publicação de seus escritos atualmente é obra do “Lonergan Research Institute” com sedes no Canadá e nos EUA [https://lonergan.org/].

Mas, qual é a intuição fundamental deste  pensador tão criativo e profundo? Ora, podemos dizer que Bernard Lonergan estava preocupado com a necessidade de repensar no plano intelectual os critérios da verdade, no plano social o novo estilo de vida que a cultura moderna propunha e no plano espiritual/religioso a experiência humana de Deus. Por isso, seu trabalho foi buscar os fundamentos do conhecimento e da fé.

Primeiro, Lonergan se preocupa com o conhecimento: como podemos justificar os juízos de verdade em campos como o da fé que não são campos empíricos? A partir dessa pergunta, sua investigação procura justificar a estrutura cognitiva da experiência e da reflexão. Pouco a pouco, ele começa a dar um passo maior em direção à compreensão de que conhecer Deus não é o mesmo que verificar um experimento, mas é uma questão que envolve nossa liberdade. É um processo intelectual que nos conduz em direção ao reino da liberdade, através de uma escolha fundamental a respeito do objetivo da nossa existência.

Para Lonergan, cada pessoa tem responsabilidade pela qualidade da própria vida. Daí, o percurso que ele propõe para todo ser humano na busca do conhecimento e da realização é: (1) ser atento à experiência humana em todas as suas formas, (2) ser inteligente tentando sempre entender, (3) ser razoável verificando a verdade, (4) ser responsável tomando decisões em sintonia com o nosso conhecimento e (5) ser apaixonado reconhecendo o amor de Deus por nós.

Sobre o último ponto, para Lonergan a experiência religiosa é um apaixonar-se por Deus. Não como conquista, mas como dom recebido. Dom que é a suprema realização de nossas capacidades e o ápice de nossa liberdade no amor. Para explicar isso, ele gostava de citar São Paulo (Rm. 5,5): “O amor de Deus está presente em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado”. Central neste caminho de amor é a conversão dos afetos. É um saber-se amado por Deus com a mente, mas também, e especialmente, com o coração. Por isso, o cristianismo implica não somente o dom interior de ser apaixonado por Deus, mas também a expressão exterior do amor divino em Jesus Cristo que morre e ressuscita pela humanidade.

Portanto, a experiência reflexiva proposta por Lonergan, e que tem um forte fundamento na Espiritualidade Inaciana como podemos ver nos parágrafos acima, quer fazer de cada um de nós, cada pessoa, um ser consciente e compassivo, competente e comprometido, com nós mesmos, com os outros, com a realidade social e com esse impulso humano que nos leva além e nos abre a experiência de Deus em nossas vidas. Sobre isso, para Lonergan, filosofia e teologia possuem um papel importante.

Elton Vitoriano Ribeiro SJ é professor e pesquisador no departamento de Filosofia e Reitor da FAJE

Imagem:  Lumen Christi Institute

...