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“Creio no Espírito Santo”

Geraldo De Mori SJ

Sereis batizados com o Espírito Santo” (At 1,5)

A liturgia de muitas igrejas cristãs celebra no domingo, depois da festa da Ascensão, Pentecostes, a efusão do Espírito Santo sobre os discípulos e discípulas de Jesus. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, que narra esse acontecimento, após voltar para o Pai, Jesus pede aos Apóstolos que fiquem em Jerusalém e aguardem a “força vinda do alto” (At 1,5.7). No dia de Pentecostes, reunidos no lugar em que estavam acostumados a ficar em Jerusalém, “de repente, veio do céu um ruído como um vento forte, que encheu toda a casa em que estavam” (At 2,2). Desceram então como que “línguas de fogo”, que os fizeram ficar “repletos do Espírito Santo”, e começaram a falar em “outras línguas” (At 2,4). Esse “sopro” e essas “línguas” aparecem em outros momentos ao longo da narrativa dos Atos dos Apóstolos, como quando Pedro, na casa de Cornélio, acolhe não judeus na comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus, aí também o Espírito desceu e as pessoas começaram a falar em línguas (At 10,44.46), ou quando Paulo anuncia o Cristo em Éfeso a discípulos que tinham sido batizados no batismo de João, e reza sobre eles, impondo-lhes as mãos, o Espírito desce sobre eles e eles começam a falar em línguas (At 19,5-6).

Os escritos de Lucas (Evangelho e Atos dos Apóstolos) tiveram grande impacto sobre o ciclo litúrgico do tempo pascal nas igrejas cristãs. De fato, sua cronologia, que estabelece que após 40 dias Jesus “subiu ao céu” e na festa de Pentecostes o Espírito Santo foi derramado, é a que foi adotada como demarcadora da cronologia do tempo pascal em muitas igrejas e comunidades cristãs. É interessante, porém, notar, que no Evangelho de João, o Espírito é dado no momento mesmo em que Jesus morre. Segundo o relato, após tomar vinagre, ele disse “está consumado” e inclinando a cabeça, “entregou o Espírito” (Jo 19,30). O mesmo evangelista, no episódio da aparição aos apóstolos, após saudá-los por duas vezes dizendo “a paz esteja convosco”, mostra-lhes “as mãos e o lado” e “sopra sobre eles” e lhes diz “recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados lhes serão perdoados; a quem os retiverdes, lhes serão retidos” (Jo 20,19-23).

A diferença “cronológica” também marca diferenças “teológicas”. Na maioria dos textos do Novo Testamento o Espírito está associado a Jesus: ele intervém no momento de sua concepção (Lc 1,35), ele desce sobre ele no momento do batismo (Lc 3,22; Mc 1,10), ele o leva ao deserto (Lc 4,1; Mc 1,12), onde o ajuda a vencer satanás, ele o guia em sua missão messiânica, tal como se expressa na sinagoga de Nazaré (Lc 4,18-19), ele o assiste na hora da agonia (Lc 22,39-46), ele é entregue na hora suprema da morte do Nazareno (Jo 19,6), ele o ressuscita dos mortos (Rm 8,11). A descrição da “efusão” do Espírito em Pentecostes, como também na casa de Cornélio, reveste-se dos traços da apocalíptica judaica, com as imagens do ruído do vento, das línguas de fogo, do falar em línguas. Essas imagens remetem, em parte, a textos do Antigo Testamento. De fato, a imagem do “sopro” encontra-se no segundo versículo do livro do Gênesis, que, após iniciar dizendo que “no princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1), acrescenta, “a terra era sem forma e vazia, e sobre o abismo havia trevas, e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. A imagem das “línguas” e do “fogo” encontra-se em Jl 3,1-5, segundo o qual Deus derramará seu Espírito sobre toda a carne, que fará com que todos profetizem, o Espírito derramado fará prodígios nos céus e na terra, sangue, fogo e colunas de fumaça. Nessas passagens o Espírito atua na criação, na concepção, na ação, na morte e na ressurreição de Jesus, como também no nascimento e desenvolvimento da comunidade.

Apesar de o Espírito ser incorpóreo, portanto não apreensível através de imagens, na Bíblia ele é descrito como sopro (vento), fogo, línguas, pomba. Segundo os Atos dos Apóstolos, é ele quem guia o dinamismo missionário dos discípulos, levando o Evangelho até os “confins do mundo” (At 1,8). Na história do cristianismo, ele será aquele que “confere a graça do Cristo”, ou seja, aquele que torna possível o “revestir-se de Cristo”, estando por isso mesmo na origem do ato de fé, movendo à oração (Rm 8,26-27), levando os fiéis a reconhecerem Jesus como Senhor (1Cor 12,3), formando a Igreja como Corpo de Cristo, sendo a fonte dos muitos dons e carismas (1Cor 12,4-31). Por “soprar onde quer” (Jo 3,8), os que o acolhem têm muitas vezes dificuldades de discernir se o que sentem como sua moção é verdadeiramente obra dele. Daí a necessidade de não se acreditar em qualquer espírito, mas de “discernir os espíritos” para ver se são de Deus (1Jo 4,1). De fato, “só quem confessa Jesus Cristo vindo na carne é de Deus” (1Jo 1,2).

Segundo alguns estudiosos, o cristianismo ocidental padece de um “déficit” de pneumatologia, ou seja, ele enfatizou mais o Cristo e deixou na sombra o Espírito Santo. Sob muitos pontos de vista, esse déficit tem sido corrigido no último século com a irrupção pentecostal no seio das igrejas, graças aos revivals ocorridos no início do século XX no seio de igrejas protestantes, o mais conhecido sendo o da rua Azuza, em 1906, em Los Angeles, Califórnia. De fenômenos semelhantes nasceram quase todas as igrejas evangélicas pentecostais desde então. No mundo católico, esse movimento é, em geral, identificado com a Renovação Carismática Católica (RCC), embora a renovação oriunda do Vaticano II seja obra do Espírito, tendo suscitado inúmeras iniciativas de presença crística no mundo. Mesmo assim, no seio de todas as confissões cristãs o pentecostalismo é a expressão religiosa que mais cresce no mundo hoje. Com ênfase no sentimento e na emoção, valorizando a experiência subjetiva da salvação, muitos dos movimentos e denominações pentecostais propõem uma abordagem literal da Bíblia, tendendo então ao fundamentalismo, rejeitando grande parte dos métodos de leitura das Sagradas Escrituras, apoiando grupos políticos de caráter conservador, carecendo do “discernimento” ao qual é convidado todo aquele que se diz discípulo e discípula de Jesus, como bem o diz 1Jo 1,2.

Há muitos anos a Igreja católica e muitas igrejas protestantes no Brasil realizam uma semana de oração pela unidade dos cristãos na semana que antecede a festa de Pentecostes. Mais do que nunca, as divisões e polarizações que marcam o tempo presente, muitas delas incitadas por grupos religiosos que se dizem cristãos, muitos deles de origem pentecostal, evangélicos e católicos, necessitam ser discernidas. Coincidentemente, neste ano de 2021, no dia 20 de maio, os jesuítas de todo o mundo recordam os 500 anos da “ferida” de Pamplona, que está na origem do processo de conversão vivido por Iñigo de Loyola, uma das principais referências da Igreja católica na questão do discernimento. O lema escolhido para este “ano inaciano”, que começa no dia 20/05/2021 e termina no dia 31/07/2022, é “ver novas todas as coisas em Cristo”. Não por acaso uma das principais contribuições do Papa Francisco ao conjunto da Igreja é justamente chamá-la ao discernimento, abrindo-se às surpresas do Espírito Santo, que “sopra onde quer” e, como se reza na festa de Pentecostes, “renova toda a face da terra”. Oxalá, como nos convida o lema do ano inaciano, a transfiguração de nosso olhar nos faça não só “ver novas todas as coisas em Cristo”, mas também, como o próprio Cristo, façamos todas as coisas novas.

Geraldo Luiz De Mori SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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