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Economia Solidária

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Élio Gasda SJ

O Dia Nacional da Economia Solidária é comemorado no Brasil em 15 de dezembro. Sancionada em 2019, a data tem o objetivo de incentivar a defesa do trabalho associado e voluntário, a partir do desenvolvimento sustentável, respeito à vida e com justiça social.

Tendo como base a cooperação em vez da competitividade, a economia solidária é essencial no momento em que o aumento da desigualdade social, o trabalho precário e o desemprego levaram milhares de pessoas à pobreza.

Papa Francisco vem dando destaque à temática através do projeto “Economia de Francisco”, reconhecendo práticas econômicas que promovem a vida dos mais pobres.

A economia solidária trabalha em parcerias com outras forças políticas e sociais. Muitos de seus atores e apoiadores são cristãos que contribuem com seu tempo, trabalho e recursos financeiros, como a Caritas e as Vicarias de solidariedade.

Existem vestígios da economia solidária já no início darevolução industrial, quando operários se articulam para encontrar formas de resistência ao capitalismo selvagem. Vinculada às histórias de luta dos trabalhadores contra a exploração, tem origens em pensadores utópicos como Robert Owen e suas associações de apoio mútuo.

Iniciativas que inicialmente tomaram a forma de cooperativas de ajuda mútua, evoluíram. Aprendendo de outras experiências, assumiram o gerenciamento daprodução, consumo e organização dos recursos humanos e materiais. Essa economia é baseada na solidariedade e na sustentabilidade, não na lógica do mercado capitalista. Asolidariedade está incorporada desde o planejamentocoletivo e o gerenciamento democrático.

“É possível encontrar testemunhos significativos e exemplos das muitas iniciativas, auto-organização privada e social caracterizado por formas de participação, cooperação e autogestão, mostrando toda a energia da solidariedade” (Compendio da Doutrina Social da Igreja, n. 293).

Essas iniciativas demonstram não apenas o potencial econômico, mas também uma capacidade de concretizar projetos alternativos que abrangem sindicatos, religiões,universidades e demais organizações da sociedade. Por exemplo, a Caritas, organismo da CNBB, financia milhares de projetos alternativos baseados na Comunidadee está envolvida no apoio técnico e formativo.

A internet favorece a disseminação de projetos e iniciativas e atividades conjuntas. Encontramosincontáveis pequenas associações mantidas por trabalhadores e trabalhadoras apoiadas por entidades. A lista é longa: trabalhadores de empresas de autogestão, comércio justo, consumo de produtos orgânicos, consumo solidário, trocas locais, microcrédito, grupos de compra solidário, feiras de agroecologia, redes de apoio aosmigrantes, frentes de luta contra o trabalho escravo, associações de catadores de material reciclável.

Os mais atingidos pelo capitalismo neoliberal, os descartados e “sobrantes” para a economia de mercado, vão gerando formas próprias de trabalho para garantir a sua sobrevivência e assim aliviar as severas condições de vida impostas pelo sistema.

A economia solidária tornou-se uma alternativa real para a reconstrução do tecido social frente à precarização do trabalho e do fim das proteções sociais. Onde se sofre de forma mais cruel os impactos do neoliberalismo, esse setor da economia tornou-se um meio de vida para milhares de pessoas descartadas do mercado. Elas também se converteram em espaços de luta social estreitamente vinculada ao resgate dos direitos, da cidadania e do cuidado com o meio ambiente.

Esse vasto mundo da “economia dos descartados” apresenta inúmeras estratégias. Seja sob a forma do trabalho individual, familiar, coletivo, apresenta-se de forma dispersa na luta diária por conquistar Terra, Teto e Trabalho, os três T que fala Papa Francisco.

Simplicidade, muito trabalho e sacrifício, perseverança e solidariedade na batalha pela sobrevivência. Os setores populares mais dinâmicos são justamente os discriminados pelos poderes políticos e pelo mercado: organizações dos povos indígenas, movimentos de trabalhadores expulsos de suas terras, famílias de trabalhadores sem-teto, de quilombolas, libertados do trabalho escravo, mulheresperiféricas, migrantes e refugiados, juventudes sem oportunidades no mercado.

Ajudemos a tornar a economia mais humana e fraterna.Precisamos tomar consciência e valorizar essa “outra economia” do trabalho de milhares de mulheres e homensinvisíveis para os economistas do mercado. “Deixemos que outros continuem a pensar na política ou na economia para os seus jogos de poder. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem” (Fratelli tutti, n. 77).

A economia solidária é a porta de entrada de uma economia da fraternidade. Não há futuro para uma sociedade que ignora o princípio de fraternidade. A esperança em um mundo mais humano precisa traduzir-se em compromissos com outros modelos econômicos.

Mais informações: Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES): https://fbes.org.br/

 

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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