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Fraternidade e Educação: escutar

Élio Gasda SJ

Existe em nós um desejo enorme de aprender, mas também de ensinar. Não foi diferente com Jesus. Quando comtemplamos as ações e palavras de Jesus, encontramos uma pedagogia educativa: atos, palavras, gestos, estilo de vida. Um educador que caminha com seu povo, compreende suas fragilidades, respeita seu tempo e convida a estar com Ele e ser como Ele. Escutemos.

A Campanha da Fraternidade – 2022 nos convida a refletir sobre Fraternidade e Educação. Fala com sabedoria, ensina com amor (Prov. 31,26). A CNBB quer nos alertar para o valor da pessoa humana como princípio e finalidade do educar.

Educar do latim educare, educere, significa conduzir para fora ou direcionar para fora, no sentido de preparar as pessoas para o mundo, para a vivência em sociedade.

Escutar a realidade! O mundo vive um cenário de desafios, alguns evidenciados ainda mais pela pandemia. As desigualdades e a pobreza avançam. É preciso encontrar caminhos para uma reconstrução social, política e econômica. Torna-se fundamental ouvir os clamores dos vulneráveis. “O que acontece quando não há a fraternidade conscientemente cultivada, quando não há uma vontade política de fraternidade, traduzida em uma educação para a fraternidade, o diálogo, a descoberta da reciprocidade e o enriquecimento mútuo como valores?” (Fratelli tutti, 33).

A realidade fala: analfabetismo, analfabetismo funcional, qualidade do ensino, evasão escolar, desigualdade no ensino superior, uso das tecnologias, pobreza, entre outros. O momento é de analisar a educação e seus desafios, potencializados pela pandemia, a partir do contexto cultural, político, familiar, social e religioso.

A educação está a serviço de quem ou de quê? Estamos educando os mais jovens para que se protejam, se adaptem ou que modifiquem o mundo? Ensinamos e praticamos o exercício da reflexão? Pensamos antes de apresentar opiniões? Estamos problematizando e apontando saídas possíveis? Os conhecimentos que produzimos são para todos?

A Campanha da Fraternidade nos convida a escutar para aprender sobre os fundamentos do ato de educar à luz da pessoa de Jesus. Priorizar a educação como imprescindível para a construção de um mundo mais justo e pacífico. A educação é uma forma privilegiada de abrir caminhos na busca do humanismo integral e solidário.

A CF-22 está impulsionada pelo Pacto Educativo Global, proposta do Papa Francisco que tem como compromisso a pessoa humana. Nesse contexto o ouvir, promover, acolher, renovar e cuidar tornam-se fundamentais para uma educação transformadora, principalmente em tempos de pandemia. Construir uma nova realidade. Uma realidade que nasce da capacidade de cooperação que pode conduzir a uma visão diferente de mundo. O que aprendemos de nós mesmos com a pandemia? O que ela revela de nós, de nossa humanidade? São muitas perguntas que nos ajudam a escutar a realidade, compreender seus gritos e silêncios, seus excessos e ausências.

Escutar o outro, com os ouvidos e o coração. Escutar supõe proximidade, sem a qual não é possível um verdadeiro encontro. A escuta permite encontrar o gesto e a palavra que nos desinstala da condição de espectador. Escutar o outro é ponto fundamental da pedagogia da escuta de Jesus.
O individualismo radical é o mais difícil de vencer (Papa Francisco). A retomada de um projeto de reconstrução da sociedade não pode ser individual. É preciso pensar em um projeto para todos. Todo conhecimento ajuda, mas não basta, não garante sabedoria. Um exemplo é o conhecimento científico durante a pandemia. Várias vacinas foram desenvolvidas, mas nenhum projeto de vacinação para todos os países foi apresentado. Faltou sabedoria. Países continuam sofrendo com a falta do imunizante, novas cepas surgem. Os mais pobres continuam morrendo.

Fraternidade e amizade social, eis as perspectivas da educação. A cultura do encontro nos motiva a romper as fronteiras do preconceito, do ódio, da indiferença. Indispensável a formação de pessoas que se organizem para desenvolver o crescimento humano e espiritual dos mais vulneráveis.

O cuidado com a educação formal é necessário para o desenvolvimento da aldeia global e de cada nação, estado, cidade, comunidade. No Brasil a situação das pessoas em condição de analfabetismo é um grande desafio: 6,6% da população com mais de 15 anos não sabe escrever. 10 milhões de jovens entre 14 e 29 anos, não completaram o Ensino Fundamental ou Médio. Somente 21,4% das pessoas com idade entre 18 e 24 anos estavam matriculadas (IBGE, 2019). Analfabetismo é causa de pobreza e de vulnerabilidade social.

Educação é direito de todos e dever do Estado (Constituição Federal, Artigo 205).

Escutemos uns aos outros. Que nossa família, nossas igrejas, pastorais, associações e movimentos sociais sejam espaços de educação para a fraternidade. Educar com amor para viver em comunhão!

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE
https://domtotal.com/noticia/1565327/2022/02/fraternidade-e-educacao-escutar/

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