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Humanamente divina, Divinamente humana!

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Élio Gasda

“Minha senhora dona, um menino nasceu, o mundo tornou a começar”! (Guimarães Rosa).

Estima-se que, a cada segundo quatro crianças nasçam no mundo. Na América, Europa, Oceania, África, Ásia, Antártida ou Palestina, não importa, cada uma delas traz esperança. Cada uma é presença do amor de Deus no mundo. São sagradas, únicas e irrepetíveis.

“Jesus nasce para todos e doa a toda a humanidade o amor de Deus” (Papa Francisco). Amor incondicional e sem fronteiras de nenhum tipo: “Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus” (Gal 3,28). Irmão e irmãs, iguais, fraternos. Essa é a esperança do Natal! Não é uma esperança romantizada, mas provocadora, ousada e corajosa. Natal nos questiona!

O que vemos é um Natal padronizado pelo mercado, esvaziado pelo consumismo, vulgar e violento com os mais pobres. Nas praças e Jardins luzes cintilantes piscam e brilham enquanto no mundo quase 1 bilhão de pessoas vivem sem energia elétrica (ONU). Outras luzes e estrondos armas, bombas e mísseis rasgam os céus na Guerra da Ucrânia e de 28 conflitos e combates no mundo.

São milhares de crianças refugiadas que perderam seus lares. 90 milhões de pessoas no mundo forçadas a deixar suas casas. Sem terra, sem teto, sem  trabalho. No Brasil mais de 280 mil pessoas moram na rua e 6 milhões de família não possuem moradia digna. Mais de 10 milhões vão passar o Natal sem trabalho. De um lado, mesas fartas e desperdício! De outro, 828 milhões de pessoas afetadas pela fome no mundo. 33 milhões são brasileiros.

Papa Francisco nos explica que “o Presépio é um convite a sentir, a tocar a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento. As ruínas e os pobres ali representados recordam que eles são os privilegiados deste mistério. Não podemos deixar-nos iludir pela riqueza e por tantas propostas efémeras de felicidade”.

“A Palavra de Deus se fez carne e veio morar entre nós” (Jo, 1,14). Deus não está mudo eternamente no seu mistério. Deus não se comunica conosco através de doutrinas complicadas, regras morais ameaçadoras ou nos ameaçando com o inferno. O Deus humanizado se une à nossa fraqueza. “Ele, existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano” (Fl 2,6-8).

Deus nos fala e nos olha em um bebê envolvido em faixas dentro de um estábulo deitado numa ‘manjedoura’, palavra bonita para cocho de madeira usado para alimentar vacas, jumentos, cavalos. A história da Encarnação de Deus acontece “lá embaixo” nos cantinhos mais esquecidos do mundo. Em uma criança pobre, sem estardalhaço e luxo.

Não se pode adorar verdadeiramente a Deus no Natal e dar as costas aos necessitados (1Jo 5,20). “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14, 9). Esse é o caminho para “conhecer” a Deus.

Jesus realiza o melhor de nós: Humanizar-se! Esse é o verdadeiro sentido do Natal. O presente é Deus que se fez radicalmente humano. A vivência mais profunda do Natal acontece no cotidiano. A convivência diária permite que cada um, cada uma seja presença, doação, partilha, que compreenda e respeite o outro.

Que Deus encontre o coração humano como lugar de nascimento. Que seja Ele acolhido pelos presépios vivos. Que a tolerância, a compreensão, justiça e solidariedade sejam os melhores presentes. Só haverá Natal quando houver dignidade, respeito e paz para todos.

Natal “é o tempo da inocência, da pureza, da mansidão, da alegria, da paz nos encontre cada vez mais semelhantes Àquele que, neste tempo, Se tornou criança por nosso amor; que em cada novo Natal nos encontre mais simples, mais humildes, mais santos, mais caridosos, mais resignados, mais alegres, mais repletos de Deus” (Cardeal Newman).

Jesus, Humanamente divino e divinamente humano, levou a cabo a revolução mais assombrosa que se produziu na história das religiões.

Um Deus humanizado! Eis a base da fé cristã tantas vezes negada. Deus se humaniza para que nós nos humanizemos e sejamos felizes. Em Seu mistério se revela nosso mistério.

Deus é uma Criança que brinca “… porque é de infância, meu filho, que o mundo precisa” (Thiago de Mello).

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