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Lucrando com a dor e a morte: criminosos!

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Élio Gasda SJ

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de fome, de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais…”
(Caetano Veloso).

O vírus “bilionário” mata!

De um lado, lucro e concentração de riqueza; do outro, a fome e a pobreza extrema. A covid-19 evidenciou a desigualdade social. Enquanto milhões são ameaçados pela doença, pela falta de emprego e renda, sofrem a dor da perda de familiares e amigos, outros vibram com o aumento de suas fortunas. Pandemia é sinônimo de lucro.

Basta vontade política para vencer a pobreza, a fome e a marginalização. Tirar dos ricaços e repartir com os pobres, aponta relatório da Oxfam Lucrando com a dor (https://www.oxfam.org.br/justica-social-e-economica/forum-economico-de-davos/lucrando-com-a-dor/).

É urgente tributar os ricos!

Como? Criar um imposto temporário de 90% sobre lucros excedentes extraordinários das empresas de todos os setores; “imposto de solidariedade pandêmico” que incida sobre as novas riquezas dos bilionários. Justiça fiscal!

Oxfam sugere um imposto de 2% sobre fortunas pessoais acima de cinco milhões de dólares, 3% para fortunas acima de 50 milhões e 5% para aquelas acima de 1 bilhão de dólares. Essa proposta arrecadaria em torno de 2,52 trilhões de dólares em todo o mundo. Dinheiro suficiente para tirar da pobreza 2,3 bilhões de pessoas, produzir vacinas contra covid-19 para toda população mundial e oferecer saúde e proteção social para 3,6 bilhões de pessoas de países de baixa e média renda.

Em 2022, a cada 33 horas, um milhão de pessoas poderá ser empurrada para a pobreza extrema. E cada 30 horas novos bilionários vão surgir. No mundo, há 2.668 bilionários. A soma de suas fortunas chega a US$ 12,7 trilhões. Um aumento de US$ 3,78 trilhões em plena pandemia. A riqueza deles equivale a 13,9% do PIB global. Bilionários se entopem de lucros sem nada produzir. Levam o mundo à destruição. Criminosos sociais e ambientais.

O relatório da Oxfam foi apresentado na véspera da reunião do Fórum Econômico Mundial de Davos (22 a 26/05). A cinco décadas, o Fórum reúne líderes políticos, economistas, diretores de poderosas companhias mundiais e alguns representantes da sociedade civil para discutir os problemas já conhecidos por todos: fome, saúde, meio ambiente, tecnologias, conflitos e guerras. É retórica e hipocrisia pura. Mas são tão poderosos que estão ditando as regras para o resto do mundo.

De acordo com a Oxfam, foram exatamente as grandes empresas dos setores de alimentação, tecnologia, medicamento e energia – representadas em Davos – as que mais lucraram com a pandemia. 62 novos bilionários surgiram no setor de alimentos. Em 2021, a Cargill, uma das empresas líder do setor, conseguiu o maior lucro na história: US$ 5 bilhões. A família tem 12 bilionários – eram 8 antes da pandemia. No mundo, 821 milhões de pessoas não têm o que comer (FAO). A fome é a realidade mais chocante. Bilionários e criminosos.

No setor de medicamentos surgiram 40 novos bilionários. Moderna e Pfizer estão lucrando US$ 1.000 por segundo graças ao monopólio sobre as vacinas contra a Covid-19. O dinheiro público financia grande parte da pesquisa em medicamentos.

A pandemia do coronavírus ultrapassou 100 milhões de infecções e matou mais de 2,1 milhões de pessoas. Uma a cada quatro segundos! De cada 100 vacinações aplicadas no planeta, apenas 3,4 ocorreram no continente africano. Bilionários transformam a pandemia em negócio.

 

Cinco empresas de energia (BP, Shell, TotalEnergies, Exxon e Chevron) tiveram US$ 82 bilhões de lucro em 2021 – US$ 2.600 a cada segundo. Nesse ano, essas empresas pagaram US$ 51 bilhões de dividendos a seus acionistas, 63% de seu lucro líquido.

As companhias de tecnologia Apple, Microsoft, Tesla, Amazon e Alphabet lucraram US$ 271 bilhões em 2021, quase o dobro do obtido em 2019. Elon Musk, o mais rico do mundo, viu seu patrimônio crescer 699% nos últimos 2 anos.

Para os ricos, riquezas escandalosas; para os pobres, fome, desemprego, salários congelados e falta de alimentos, energia e saúde. 121 milhões de empregos foram perdidos em 2021(OIT). Um trabalhador médio que está entre os 50% mais pobres da população mundial teria que trabalhar 112 anos para ganhar o que um bilionário recebe em 1 ano.

No Brasil o desemprego atinge 11,3 milhões de pessoas. Uma das maiores do mundo! Para 75% da população, falta dinheiro para comprar comida. Quase 10 mil pessoas vivem em situação de rua em Belo Horizonte. A pandemia já ceifou quase 700 mil vidas.

Como se chama um governo de morte comandado por sujeitos grotescos? O país virou um desastre em todos os sentidos. É inacreditavelmente obsceno.

O povo perdeu a capacidade de se indignar.

“É necessário e urgente um sistema econômico justo, confiável e capaz de responder aos desafios mais radicais que a humanidade e o planeta devem enfrentar” (Papa Francisco).

 

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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