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Maria na experiência espiritual de Santo Inácio e na nossa

Padre Alfredo Sampaio Costa SJ

Inácio, em toda a sua vida, teve por Nossa Senhora um amor privilegiado. Aqueles que conviveram com ele nos deixaram numerosos testemunhos . Ele experimentava uma devoção especial por Nossa Senhora. Desde os dias em que o cavaleiro, sonhava em “vingar a honra de Nossa Senhora”, e desde as misteriosas aparições onde ele a via “com olhos interiores”, até os cumes místicos em que a Mãe de Deus “o ajudava junto de seu Filho e junto do Pai”, sua vida inteira está marcada com o sinal de Nossa Senhora. Mais do que falar dela, (apenas a evoca duas ou três vezes em suas cartas), ele se coloca sob a sua proteção nos momentos decisivos. Neste mês de maio, vamos conhecer o amor que Inácio tinha por Maria, ao mesmo tempo que agradecemos a nossa Mãe pelas graças recebidas ao longo de nossa vida.

 Experiências marianas na infância e juventude de Inácio

Conhecemos a importância das experiências vividas na nossa infância e o papel fundamental da figura materna na vida de todos. Parece que Inácio foi privado da presença da mãe em tenra idade. Maria iria “adotá-lo” e preencheria esse vazio deixado.

A intensa presença da Virgem Maria na espiritualidade inaciana encontra sua origem na tradição religiosa de sua família, de sua terra basca e de outros lugares da Espanha onde viveu ou por onde passou (Arévalo, Nájera, Montserrat, Manresa). Testemunho eloquente da piedade mariana dos Loyola é a ermida de Nossa Senhora de Olatz, situada a 500 metros da casa-torre onde nasceu Iñigo López de Loyola. Ali se venera uma linda imagem da Virgem Rainha sentada no trono com o Menino Jesus vestido de rei em seus joelhos. Com certeza o jovem Iñigo rezou nesta capela com frequência.

Ainda mais íntima é a devoção mariana presente no oratório da mesma casa-torre, construído durante a sua infância por iniciativa de Dona Madalena de Araoz, esposa do seu irmão mais velho. Nele se encontra um retábulo em cujo centro se encontra uma tábua flamenga da Anunciação e na parte superior se encontra uma imagem da Quinta Dor de Nossa Senhora, o pranto da Virgem com o filho morto em seu colo. Com certeza Inácio durante sua infância, mas sobretudo durante sua convalescença da ferida de Pamplona (junho de 1521), nesta primeira fase de sua conversão, rezaria com frequência diante destas imagens. A invocação mariana das Sete Dores, com as quais se expressam todos os sofrimentos de Maria, como participação na cruz de seu Filho, a conheceu o jovem Iñigo quando, por motivos de formação profissional, deixou a casa torre para ir à casa do contador maior Don Juan Velásquez de Cuéllar em Arévalo. Durante 11 ou 12 anos (1504-1517) Inácio viveu nesta cidade castelhana que tem até agora como Padroeira a Virgem das Angústias. Mais tarde, tendo recebido uma estampa dessa imagem, a carregava consigo nas viagens.

Na sua convalescença em Loyola, onde fará suas primeiras experiências de combate espiritual, Inácio fez questão de recordar uma importante experiência espiritual, envolvendo a Virgem Maria:

“Estava uma noite acordado, quando viu claramente uma imagem de Nossa Senhora com o santo Menino Jesus. Com essa vista, por espaço notável, recebeu consolação muito excessiva e ficou com tanto asco de toda a vida passada e especialmente dos pecados da carne, que parecia terem-lhe tirado da alma todas as imagens que antes tinha nela pintadas. Assim, desde aquela hora até agosto de 1553, em que isso se escreve, nunca mais teve nem um mínimo consentimento em matéria carnal. Por esse efeito se pode julgar ter sido graça de Deus, embora ele não ousasse determiná-lo, nem dizia mais que afirmar o sobredito” (Aut. 10).

Maria vem em socorro de Iñigo, desordenado na vivência da sua sexualidade, tornando-o livre.

Ribadeneira, na sua “Vida de Inácio” relata um acontecimento anterior, com seu estilo vivaz, mas que escapa muita vez à objetividade dos fatos, revestindo aspectos quase de uma lenda.

“Embora em meio a esses propósitos se lhe antolhassem trabalhos e dificuldades, nem por isso desanimava ou se entibiava em nada o seu fervor, antes, armado de confiança em Deus, dizia: Em Deus tudo poderei. Já que ele me dá o desejo, também me dará a realização” (Fl 4,13). O começar e o acabar é tudo dele. Com essa resolução e vontade firme, levantou-se certa noite da cama, como costumava muitas vezes, para orar e oferecer-se ao Senhor como suave e perpétuo sacrifício, depois de já serenadas as lutas e dúvidas angustiosas do seu coração. E estando de joelhos diante de uma imagem de Nossa Senhora, e a oferecer-lhe com humilde e fervorosa confiança, por intermédio da sua gloriosa Mãe, ao piedoso e amoroso Filho como soldado e servo fiel, e a prometer-lhe seguir o seu estandarte real e voltar as costas para o mundo, sentiu-se em toda a casa um estalo muito forte, e o aposento onde estava tremeu.

A rachadura do muro norte da casa ainda se observa. Possivelmente essa rachadura ou fenda longa já existisse desde muito. Ela serve de metáfora ou símbolo da conversão espiritual de Iñigo de Loyola. Separação interior e rompimento com o antigo. Salto definitivo da vida pecadora e mundana para a vida santa de virtudes heroicas. Mudança de vida que o transformou em outro homem. A sua visão do mundo e de sua própria existência pessoal mudara radicalmente.

Nesse mês dedicado a Nossa Senhora, recordemos também a presença materna e amorosa de Nossa Senhora em nossa vida, com coração agradecido por ela sempre nos proteger e nos chamar a uma vida de maior serviço e glória de Deus. Qual é a imagem de nossa devoção? O que ela nos fala de Maria?

Padre Alfredo Sampaio Costa SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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