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Medo…mas também alegria

MEDO… MAS TAMBÉM ALEGRIA

Washington Paranhos, SJ

 

Querido(a)s amigo(a)s, este é um tempo santo para nós cristãos. Nesses dias da Oitava da Páscoa, trata-se de mergulharmos em um mistério profundo, de continuarmos fazendo memória do passado, quando Deus salvou seu povo, libertando-o da escravidão egípcia; e, que em Jesus, com sua ressurreição, salvou-nos da morte eterna e do pecado. Aqui estamos, neste ano de 2020, de um modo tão diferente e único, pedindo que sejamos salvos da escravidão deste vírus que assola a humanidade e de toda outra forma de escravidão que adoece profundamente a humanidade. Celebramos a certeza da vitória da vida sobre a morte e a nossa esperança cristã de que Deus conduz a história para a salvação de seu povo, pois Ele é a luz que ilumina as nossas trevas.

Pensei em escrever algumas linhas nesse tempo pascal, deixando ainda ressoar todos os sentimentos, imagens…, vivenciadas nestes dias e, especialmente, a densa experiência sentida com os textos bíblicos e litúrgicos do tríduo pascal e dos últimos dias.

Alguns termos, expressões de movimentos e descrições de sentimentos, vivenciados pelas primeiras testemunhas do Ressuscitado, mas também algumas mensagens do Papa Francisco e outras pessoas e organismos religiosos, ou não, nesse tempo, me fizeram refletir e, principalmente, me ajudaram na oração.

O texto do Evangelho da Vigília Pascal (Mt 28,1-10), que retornou na segunda-feira da oitava da páscoa (Mt 28,8-15) nos diz: “As mulheres partiram depressa do sepulcro. Estavam com medo, mas correram com grande alegria” (Mt 28,8). Essa mistura de sentimentos contrastantes, o temor e a alegria, é a fotografia não só do estado de ânimo das mulheres na manhã de Páscoa, mas também do nosso ânimo de crentes nesses dias. A nossa vida oscila continuamente entre as duas margens do temor e a confiança, a tristeza e a alegria, o medo e a esperança, a desventura e a felicidade, a inquietação e a serenidade. Há dias nos quais prevalece a margem do temor e outros em que a alegria se exprime com mais força. Os dias do ser humano sobre a terra são uma mescla contínua de medos e esperanças.

Afirmava o Papa Francisco naquele final de tarde na Praça de são Pedro vazia:

“Ao entardecer…” (Mc 4, 35): assim começa o Evangelho, que ouvimos. Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos. À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos. Tal como os discípulos que, falando a uma só voz, dizem angustiados “vamos perecer” (cf. 4, 38), assim também nós nos apercebemos de que não podemos continuar estrada cada qual por conta própria, mas só o conseguiremos juntos[1].

Sim, ninguém está fora. Todos nós estamos no mesmo barco e na mesma situação. O sentimento de “estreitamento”, comum à angústia e ao medo encontra-se em todos. “Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é”. O eco das palavras do Papa Francisco, pronunciado em 27 de março, no silêncio da Praça de São Pedro, retorna dia após dia. Continua o Papa: “A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades”. É possível que tiremos proveito do momento e de toda essa situação. Que lição podemos tirar disso?

A primeira grande lição a ser aprendida é a humildade. Humildade da parte de todos: intelectuais e políticos, crentes e não crentes, governantes e simples cidadãos. Todos somos limitados. Em resumo, somos todos criaturas que precisam de ajuda, de companhia, de amor, de apoio. Ai daquele que se sentir onipotente! Obviamente, depois do coronavírus, é mais difícil sê-lo. E de qualquer maneira seria tolice! Mas devemos sempre estar alertas. É essencial que nos posicionemos para pensar juntos no futuro, reconhecendo um e outro que precisam um do outro.

Dom Vincenzo Paglia, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, explica que uma emergência como a do Covid-19 não pode ser superada se, juntamente com meios técnicos, não se considere também uma visão que mantenha o bem comum no centro. A ciência, continua ele, “é chamada a aliar-se à solidariedade e à humanidade. Vivemos tempos em que nenhum governo, nenhuma sociedade, nenhum tipo de comunidade científica deve se considerar autorreferencial”[2]. O tempo das escolhas, “o tempo do nosso julgamento”, é o tempo de um vínculo social renovado, fundado na fraternidade. De fato, a pandemia nos pegou de surpresa e mostrou que aquela segurança, mesmo científica, na qual estávamos entrincheirados, se mostrava frágil. O coronavírus expôs a fragilidade radical de todos e de tudo. Toda a humanidade, em sua arrogância institucional – em todos os seus diferentes ângulos (político, econômico, financeiro, científico, organizacional …) – foi “golpeada” por uma molécula que nem mesmo é viva. O altíssimo nível tecnológico e de pensamento foi surpreendido por um minúsculo parasita. E todos nós, do maior ao menor, do mais poderoso ao mais fraco, subitamente ficamos “nivelados” e com medo. Nossa segurança entrou em colapso, nossa euforia gerencial-administrativa e nosso desejo de controle desmoronaram. Nós nos encontramos frágeis. E cheios de medo.

Que interessante! Hoje, com as novas tecnologias emergentes e convergentes, podemos intervir de maneira radical no humano, modificando o genoma, tirando a liberdade com a posse de Big Data. Sem considerar as perspectivas de quem fala de pós-humano ou trans-humano. Essa pandemia nos faz descobrir que devemos retomar, com humildade e com solidariedade planetária, para pensar e planejar juntos o futuro do planeta. Uma nova aliança entre ciência e humanismo, entre crentes e homens de boa vontade, é, portanto, melhor, indispensável. É a nova fronteira que está diante de nós.

Vem à cena nestes dias também, tantas propostas de espiritualidade. Aproveitadores e mercenários que se utilizam da situação de vulnerabilidade, fragilidade das pessoas e buscam apresentar soluções miraculosas para todos os problemas. A súbita irrupção da morte em cena reabriu a grande questão do sentido. Parece que o minúsculo vírus, desfez todas as seguranças e jogou por terra qualquer possibilidade dessas seguras “espiritualidades”. Pelo contrário, algumas tendências ideológicas, especialmente o transhumanismo, superaram a mortalidade como seu primeiro dogma …

A condição atual, paradoxalmente também representada pela pandemia, nos confronta com um dos grandes tabus da cultura contemporânea, a morte. A morte foi “esculpida” pela sociedade contemporânea.

Hoje ela voltou, de repente e de uma maneira desconhecida. E não há dúvida de que é uma oportunidade para despertar nossa consciência entorpecida por um bem-estar egocêntrico e narcísico. A morte por doença pulmonar nos últimos anos esteve muito presente, mas nunca nos escandalizou. As mortes por acidentes de trânsito são incontáveis, mas não nos incomodam. E assim por diante. Desta vez, um pequeníssimo e desconhecido vírus fez emergir o medo em todos. Além disso, desconcerta e abala os corações o fato de uma pessoa morrer sem ninguém próximo, sem o conforto dos sacramentos para os que creem, sem o funeral e nem mesmo o lugar nos cemitérios. Como não podemos refletir sobre isso? É o outro lado do limite. É a voz que diz: nós não somos imortais.

São, de fato, tempos difíceis. Mas Deus é sempre novo e nos convoca, como cristãos, a um testemunho de amor. Este período favorável se dá, principalmente, por meio da sublime confiança naquele que nunca nos abandona.

É tempo propício para interceder pelos nossos irmãos, trazendo rostos e situações de diversas partes do mundo para a nossa oração, pedindo pela saúde e pela proteção contra esse invisível vírus e se comprometendo com medidas conscientes e posições críticas diante dos absurdos da insanidade de alguns.

Somos o Povo que fez a experiência com o Ressuscitado que passou pela Cruz, por isso carregamos a Esperança e a serenidade de Cristo diante das mais variadas dificuldades. Temos consciência de que a ressurreição do Primogênito (1Cor 15,20ss.; cf. Lc 2,7) são primícias e antecipação da ressurreição dos outros irmãos. Escutando, acolhendo e pondo em prática a sua palavra, tornar-se-ão filhos e filhas de Deus (Mc 3,34-35).

Crer no Ressuscitado significa confiar naquele que pode tirar o bem também do mal. Para Deus não existem “buracos negros”, onde a luz é absorvida pelas trevas; porque a Páscoa inverteu a realidade, projetou um raio de luz também sobre as trevas mais densas, de tal modo que os temores, que não deixam de existir, são menos poderosos que a alegria; também a nós, como às mulheres, naquele jardim, é dado, hoje, o anúncio: “Não tenham medo, ressuscitou!”.

Coragem! É um momento difícil, mas vamos conseguir. A Ressurreição é a nossa esperança, é o sinal de que o bem sempre vence, que a vida é mais forte que a morte. O Senhor está perto de nós e nos sustenta especialmente nestes dias.

Entre o que se sente (medo) e o que se espera (alegria) “navegamos” hoje!

 

Washington Paranhos, SJ é professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Possui mestrado em teologia pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma (2015) e Doutorado em Teologia com especialização em Liturgia e Sacramentária também pela Universidade Pontifícia Salesiana de Roma (2017).

 

[1] https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2020-03/papa-francisco-homilia-oracao-bencao-urbe-et-orbi-27-marco.html

[2] https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2020-03/nota-pontificia-academia-vida-pandemia-fraternidade-universal.html

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