Pesquisar
Close this search box.

Mulheres não são objeto: educar para erradicar a cultura do estupro

advanced divider

Élio Gasda SJ

Tempos difíceis! Todo dia é uma história de crimes e violência.

Somos um país que estupra e mata mulheres e que assedia crianças!

Uma menina de 11 anos engravidou porque foi estuprada. A interrupção de uma gravidez não desejada e o nascimento de uma criança, também não desejada, e entregue para adoção, geralmente, são consequências deste crime. É caso de polícia. É crime hediondo, não é banalidade.

Viramos o “Conto da Aia”? Na misoginia disfarçada de cristã, a vítima colocada no lugar de réu. É perigoso ser mulher em um país hipócrita. Tenebroso. Homens engravatados tratando corpos femininos como objetos. Em 2021, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas (Relatório Violência contra mulheres 2021 – Fórum Brasileiro de Segurança Pública).

Uma sociedade machista que não educa para respeitar mulheres, alimenta crimes hediondos como o estupro. Até crianças! Sim, o estupro é um crime que atinge crianças! Quando mais nova a menina, maiores são as chances de ser estuprada. Em 2021,100 crianças de até 14 anos foram estupradas por dia no Brasil! Entre 2017 e 2020 foram registrados 179.277 casos de estupro com vítimas de até 19 anos. 62 mil eram crianças de até 10 anos. Um terço era crianças!

Estuprador não é só um estranho em um beco escuro. Pode ser o colega da escola, o boy da balada, o tio, o padrasto, o pai, o primo. Criminosos dentro de casa assediando crianças. Não é, necessariamente um crime que acontece sob a mira de uma arma. Na maioria esmagadora dos casos é constrangimento por meio de ameaça física, moral e/ou simbólica própria de uma cultura machista.

Muitas mulheres não se dão conta da violência que sofrem. A educação machista baseada em discursos como “segura suas cabras que meus cabritos estão soltos” coloca a sexualidade feminina subordinada ao desejo masculino. O machismo restringe o sexo feminino a casamento e reprodução: “mulher nasceu para casar e ser mãe”.

Sexo sem consentimento é estupro. Não é não. Mulheres, jovens, casadas ou solteiras, não importa, são donas de seus corpos, desejos e vontades. A superação deste crime monstruoso passa pela destruição da praga do machismo. É preciso defender o óbvio: respeito às mulheres e igualdade entre os gêneros.

Educação. Na família, na sociedade, nas igrejas. O Estado deve garantir segurança e amparo à mulher. Leis e punições devem ser mais rígidas, mas são inúteis para meninas e mulheres estupradas, assassinadas ou a caminho da morte em clínicas clandestinas de abortamento.

A família deve romper com estereótipos sexistas como “menina veste rosa e menino veste azul”. A escola deve ser espaço privilegiado para a educação baseada no respeito, igualdade e justiça de gênero. “Nunca, como agora, houve necessidade de unir esforços numa ampla aliança educativa para formar pessoas maduras, capazes de superar fragmentações e contrastes e reconstruir o tecido das relações em ordem a uma humanidade mais fraterna” (Papa Francisco).

A educação começa na infância, período em que se origina e se estrutura a personalidade adulta. A educação é caminho para libertar a sociedade do machismo. Quando a escola, pais, e o governo se recusam a oferecer educação sexual, são cumplices da perpetuação de crimes de estupro, feminicídio e violência doméstica.

Setores reacionários confundem educação sexual com pornografia e depravação moral. Fundamentalismos indiferentes à violência imposta às mulheres não podem bloquear o debate. Em defesa da vida, julgam e condenam as vítimas. Educação sexual é sobre estudar para conhecer a sexualidade humana. É compreender o próprio corpo e as relações humanas com outras pessoas. É educação humanizadora da sexualidade.

Ensinar as crianças a importância do respeito com sua sexualidade. Entender que corpos femininos não podem ser usados como objeto de desejos masculinos. Educação sexual é também ensinar a criança a se proteger do crime de estupro e denunciar os estupradores.

A violência contra a mulher é consequência de uma cultura machista. Machismo é um mal Estupradores agem apoiados na ideia de que o poder sexual está no homem e que ele tem direito de realizar esse poder sobre a mulher como quiser. Que homens devem aproveitar qualquer oportunidade para transar. O estrupo é essa cultura levada ao extremo.

Somente a desconstrução da compreensão do papel do homem e da mulher na sociedade pode erradicar a falácia de que homens têm direito e livre acesso ao corpo da mulher. Você é machista?

Deus é agredido em mulher estuprada. O grito das mulheres é o grito de Deus. Compromisso do cristão: Todas as formas de violência contra a mulher devem ser condenadas! Qualquer atitude, palavra ou comportamento que agride a dignidade e a liberdade sexual da mulher deve ser denunciada.

Para baixar relatório completo: https://forumseguranca.org.br/publicacoes_posts/violencia-contra-mulheres-em-2021/

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

...