Élio Gasda
A noite da cidade é escura, exceto pelo brilho dos mísseis.
Silenciosa, exceto pelo som dos bombardeios.
Assustadora, exceto pela garantia das súplicas.
Negra, exceto pela luz dos mártires”.
(Heba Abu Nada, poeta palestina morta durante ataque na Faixa de Gaza).
A Faixa de Gaza tem 41 km de comprimento por 10 km de largura (¼ da cidade de São Paulo). Está cercada por quase 800 quilômetros de muro de concreto de 8 metros de altura com sensores para detectar túneis, uma cerca de aço de seis metros de altura, rede de radares de vigilância e armas controladas remotamente. Os condenados da Faixa de Gaza, estão enjaulados. Nesse território, habitam 2,2 milhões de pessoas em 225 quilômetros quadrados, com foguetes, tiros e drones aterrorizando sem parar, com vigilância constante e gangues de extrema-direita espalhando terror, queimando casas, matando civis. 70% da população são formados por refugiados.
“O que significa nascer e crescer num campo de refugiados de pessoas expulsas de suas casas e de sua terra, e sem nenhuma perspectiva de superar aquela condição de finalmente ter um Estado nacional e ter uma casa novamente? Significa crescer a pão e ódio. O ódio aumenta quando falta o pão” (Vito Mancuso, teólogo). Guerras amadurecem no ódio. O ódio não pensa em nada além do inimigo e de sua eliminação. Gaza pariu um Movimento de Resistência Islâmica – Hamas.
“Nossa liberdade é incompleta sem a liberdade dos Palestinos” (Nelson Mandela). Para a Anistia Internacional, Gaza constitui um sistema de apartheid, que é um crime contra a humanidade. “As lutas dos palestinos têm muitas semelhanças com aquelas do apartheid sul-africanos. E uma das mais óbvias é a condenação ideológica de seus esforços por liberdade sob a rubrica de terrorismo” (Angela Davis).
Com a palavra, dois israelenses: Ilan Pappé, historiador, chamou essa política de ‘genocídio gradual’. Para Raz Segal, especialista em genocídios modernos, o que está acontecendo em Gaza é ‘um caso clássico de tentativa de genocídio’, na intenção de destruir um grupo racial, étnico, religioso ou nacional.
Desde o ataque do Hamas, Israel já matou mais de 6 mil palestinos em Gaza., sendo 63% dos mortos crianças e mulheres. A cada 12 minutos, uma criança é assassinada pelas bombas made USA lançadas pelo Estado de Israel. 52% das casas foram destruídas. Um povo fugindo de uma morte para outra. Hospitais viram necrotérios. Gaza está se transformando em um grande cemitério.
Os Estados Unidos continuam defendendo Israel incondicionalmente. Guerras são seu principal negócio, não a paz mundial. “Cada arma fabricada, cada navio de guerra lançado, cada foguete disparado significa um roubo daqueles que estão famintos e não alimentados, daqueles que estão com frio e não têm roupas para se agasalhar. Estão roubando recursos das nossas comunidades para alimentar a insaciável fome do complexo militar-industrial” (Dwight Eisenhower).
Como o direito de defesa de Israel é exercido? Apoiado na vingança alimentada pelo ódio. Tratando os palestinos como não-humanos, como disse o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant. “Estamos lutando contra animais e agindo de acordo”. Israel não reconhece os palestinos como um povo. Mas o Hamas não é a Palestina. E a guerra sempre será um crime.
Matar civis configura-se um ato terrorista. Os crimes do Hamas que já matou quase 1.500 civis israelenses são inaceitáveis. O bombardeio de civis palestinos também é inaceitável. A guerra é a forma mais extrema de terrorismo. Israel é um Estado terrorista? Hamas e Netanyahu são contra qualquer opção de paz. “Hamas não será destruído porque ele tem um sócio que precisa dele para sobreviver, esse sócio é Benjamin Netanyhau” (Vladimir Safatle). Vidas palestinas não importam?
A guerra é sempre uma derrota. Só os covardes matam crianças. Só os assassinos o fazem como escolha. Quem aplaude a barbárie é tão desumano quanto seus promotores. “Toda guerra deixa o mundo pior do que o encontrou. A guerra é um fracasso da política e da humanidade, uma rendição vergonhosa, uma derrota perante as forças do mal” (Fratelli tutti, 261).
Está em jogo o destino daquilo que chamamos ‘civilização’. A humanidade está sendo humilhada. “Voltemos nosso olhar para tantos civis massacrados como ‘danos colaterais’. Interroguemos as vítimas. Prestemos atenção… às mulheres que perderam os filhos, às crianças mutiladas e privadas da sua infância. Consideremos a verdade destas vítimas da violência” (Fratelli tutti, 261).
A guerra não é um mal necessário, pois “não resolve nenhum problema: apenas semeia morte e destruição, aumenta o ódio, multiplica a vingança e apaga o futuro. “Silenciem as armas, ouçam o grito de paz dos pobres, das pessoas, das crianças” (Papa Francisco).
Élio Gasda, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE