Pesquisar
Close this search box.

Somos todos políticos. A política está em tudo.

Élio Gasda SJ

Política e você, tudo a ver!

“Poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política?” (Fratelli tutti, n. 176).

Toda sociedade tem instituições que regulam as diversas dimensões da vida. A política é uma delas. Juntamente com a economia, família, cultura, religião, entre outras.

Vasto é o campo da política. Muitos a restringem ao governo, aos partidos que, através do voto, disputam o direito de exercer os Poderes de Estado: Executivo (Governos Municipais, Governos Estaduais e Governo Federal), Legislativo (Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas Estaduais, Câmara de Deputados e Senado Federal). Também ministros do Judiciário são indicações políticas feitas pelo chefe do Executivo.

O Estado é a instituição mais visível. Mas tudo está no campo da política, a educação, a cultura, a saúde, o emprego, o meio ambiente, a fome. Cada pessoa é responsável pelos rumos da política de sua cidade, seu estado e seu país. Há quem tenha vocação para a política partidária, outros para a participação em associações de bairro, conselhos de saúde, movimentos sociais, ONGs, pastorais sociais, etc.  O que não vale é a omissão.

A política uma ciência. Seu conhecimento exige estudos como a Ciência Política, a Filosofia, a Sociologia, História, a Ética, a Teologia. Para entender de política, não basta uma roda de conversa ou apenas acompanhar noticiários. É preciso compreender como o Estado funciona, a relação com as instituições da sociedade, o papel dos partidos. Muitos falam de política sem saber o que é.

A ciência política entende a política como arte do bom governo e a mais nobre das atividades humanas. Ela concretiza princípios éticos de convivência social. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), pai da ciência política, dizia que a forma-de-governo é a estrutura que organiza a cidade e determina o funcionamento dos cargos públicos e da autoridade máxima. Quando um só, poucos ou muitos exercem o poder buscando o interesse comum, temos retidão e justiça. Quando exercem no seu interesse privado, temos corrupção. Política é a arte de pessoas honestas, íntegras e racionais a serviço do interesse comum. Somente degenerados defendem interesses particulares e corrompem boas formas-de-governo. A democracia, quando associada ao povo, designa a defesa do bem comum. O historiador romano Políbio (203 a.C.- 120 a.C.) faz um alerta: “a forma-de-governo explica o êxito ou o fracasso das ações de um povo”.

Atualmente, a política é vista a partir das instituições. Nelas, o governante é mais importante que a forma-de-governo: faça o que deve ser feito para que aconteça aquilo que você quer que aconteça (Maquiavel, 1469-1572). Ou: o fim justifica os meios. Por isso, “o melhor governo é aquele em que há o menor número de homens inúteis” (Voltaire, 1694-1778).

O poder político só é controlado por outro poder político (Montesquieu, 1689-1755). Isso explica a divisão do poder do Estado em três instituições: executivo, legislativo e judiciário. Todas elas funcionam de cima para baixo.

O Estado tem o monopólio da violência, pois existe para manter a ordem social. Violência e poder político são auto excludentes. Estado militarizado não é Estado democrático. A política congrega por meio do diálogo e do consenso. A violência desagrega por meio do ódio e do ressentimento: “A forma extrema do poder é: todos contra um. A forma extrema da violência é: um contra todos” (Hannah Arendt, 1906-1975).

O poder político deve ser distribuído a partir do convencimento racional e da argumentação. Bens não políticos devem ficar de fora da disputa política: armas e dinheiro, títulos e fama (Michael Walzer, 1935-). A tirania se impõe quando se utilizam bens não políticos para controlar o Estado. No capitalismo, a tirania do poder econômico envenena a democracia. O verdadeiro poder está no dinheiro, não nas urnas. Política e economia são inseparáveis.  Democracia e concentração de riqueza são incompatíveis.

Todo cristão é um político em potencial. O que a política tem a ver com a fé? É possível “fazer política inspirada no Evangelho”? Seria a política um lugar de evangelização? É possível viver o mandamento do Amor na política? Como praticar a caridade nas instituições do Estado?

Que orientação deve ter a pessoa cristã na política? O que a política tem a ver com Jesus? O que diferencia um cristão de um não-cristão na política? Quem diz que ama Jesus pode apoiar políticas de violência, destruição e morte? Nunca houve tantas igrejas e tão pouco cristianismo.

“Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tomem verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (Evangelii gaudium, n. 205).

A Política é uma vocação. Como resgatá-la?

“Convido uma vez mais a revalorizar a política” (Fratelli tutti, n. 180).

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

...