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Vivendo a Fé Pascal I: a energia vital da esperança

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Alfredo Sampaio Costa SJ

Que o Deus da esperança vos encha de toda a alegria e de paz na fé, para que a vossa esperança se fortaleza mais e mais pelo poder do Espírito Santo” (Rom 15,13)

Crer hoje em Jesus Cristo Ressuscitado: muitos cristãos hoje hesitam quando são perguntados se a ressurreição de Cristo faz parte de sua fé (1) . As dificuldades vêm de vários ângulos:

Uma questão de linguagem: a dificuldade de compreender o que quer dizer “ressuscitar”.
Uma questão de sentido: dificuldade em perceber o sentido e o alcance dessa ressurreição.
Uma questão de fundamento: sobre que fundamento repousa a nossa fé no Ressuscitado?
Uma questão de atualidade: que sentido tem a ressurreição para o nosso mundo mergulhado em uma pandemia onde só vemos as mortes crescerem?

Que possamos aproveitar este tempo PASCAL para aprofundar a nossa fé na Ressurreição!

A ressurreição de Jesus tem seu sentido no interior de um processo de crise. Ela se inscreve na pura linha da esperança bíblica, naquilo que vem responder à crise que atravessa toda a história de Israel e que Jesus conheceu, por sua vez, em seu ministério de anúncio do Reino. Deus faz a Jesus o que anunciara o livro de Daniel para os mártires e os justos. A certeza da vitória de Jesus sobre a morte se expressou na linguagem da ressurreição, e/ou na da exaltação junto a Deus. Isso não deixa de ser sem significado: essa linguagem se refere à integridade da pessoa histórica de Jesus. Como ressurreição, essa vitória se dá a compreender como fim escatológico e comunitário: ela não é somente a vitória do indivíduo Jesus, ela é a inauguração do encontro final ao qual todos e todas somos chamados na esperança!

Em nenhum outro lugar do mundo das religiões, Deus é assim ligado à esperança humana no futuro. Um Deus da esperança, que está “diante de nós” e que nos precede na história, isso é novo! Isso se encontra somente na mensagem bíblica.

Este é o Deus do Êxodo de Israel, que ia à frente de seu povo de dia na coluna de nuvem e de noite na coluna de fogo. É o Deus da Ressurreição de Cristo, que no fogo e no turbilhão de vento do Espírito Santo conduz os seus à vida eterna. Esse Deus “habitará” junto aos seres humanos na nova criação de todas as coisas em sua Verdade, como se afirma no Apocalipse (21,3). Assim Deus vem ao encontro dos seres humanos, abrindo-lhes novos horizontes em sua história, que os moverão a partir rumo ao desconhecido e os convidarão ao novo início.

O Cristianismo é totalmente esperança confiante, direcionamento para a frente e disposição para a partida. Futuro é algo próprio do cristianismo, mas é o elemento da fé que é cristão, é o tom em que todos os seus hinos são entoados, a cor da aurora do novo dia, com que tudo será pintado. Pois a fé será cristã quando for pascal.

Crer significa viver no presente do Cristo ressuscitado na expectativa do vindouro reino de Deus. Na esperança criativa da vinda de Cristo fazemos as experiências cotidianas da vida. Nós aguardamos e temos pressa, esperamos e toleramos, oramos e vigiamos, somos ao mesmo tempo pacientes e curiosos. É isso que torna a vida cristã excitante e movimentada. Crer que “um outro mundo é possível” torna os cristãos para sempre capazes de futuro (2).
Mesmo nas contradições inevitáveis da vida, é necessário que a esperança demonstre sua força de consolo e de resistência. É consolador suportar e manter-se firmes da expectativa: “Quem perseverar até o fim será salvo”. É encorajador não ser obrigado a capitular diante de circunstâncias que não podem ser modificadas, e não ter que se entregar à tristeza, mas poder manter-se de pé, solidários com os que sofrem.

Em virtude da esperança não esmorecemos, não desanimamos, mas nos mantemos resistentes num mundo injusto e marcado pela morte. Em virtude da esperança da vinda de Deus, os oprimidos contam histórias de resistência ao curso deste mundo que os faz sofrer. Aí estão as histórias de ressurreição que o profeta Ezequiel, no cap. 37, conta ao povo desanimado.

Confiantes na vitória do Senhor sobre a morte, abramo-nos ao seu Espírito vivificador e experimentemos as forças de vida e libertação do seu Espírito. Na comunhão com Cristo tomemos conhecimento dos sinais de ressurreição já presentes em nosso meio. Pois a esperança vive da antecipação do positivo experienciada como negação do negativo .

(1) Paul BONY, A Ressurreição de Jesus. Loyola: SP 2008,13.
(2) Paul BONY, A Ressurreição de Jesus, 38.
(3) J. MOLTMANN, No fim, o início. Breve tratado sobre a Esperança, 115-117.

Pe. Alfredo Sampaio Costa é jesuíta, professor do departamento de Teologia da FAJE e autor de diversas obras.

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