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Evangelho e economia: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro (Mt 6, 24)

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Élio Gasda SJ

Como pensar a economia diante dos mais de 800 milhões de famintos no mundo, dos 83 milhões de refugiados e dos mais de 200 milhões de desempregados? “O atual sistema mundial é insustentável por diversos pontos de vista” (Laudato Sí, n. 139). A violência contra os mais pobres, contra os trabalhadores e contra a natureza é consequência da economia que temos.

O Reino de Deus anunciado por Jesus pode estimular a sociedade a buscar modelos de organização social baseados na justiça e criar instituições a serviço da vida?

Não há saúde, alimento, moradia, vestimenta, sem economia. A Bíblia não é um livro de economia. Contudo, é possível esboçar aproximações aos relatos que tocam na dimensão da economia.

A perspectiva cristã da economia encontra-se no conceito Reino de Deus. Sua característica mais determinante é a centralidade do pobre: Felizes os pobres! (Lc 6,20s). O Messias dos pobres é pobre. Nazaré, sua cidade, era um aglomerado de barracos de barro, onde vivam camponeses, desempregados, semianalfabetos.

Os humilhados, em sua maioria, são os que se aproximam a Jesus. Multidões com fome, sem trabalho e espoliadas pelo Estado e pela religião. O Sermão da Planície (Lc 6,20-26) anuncia a eles a inversão de sua sorte (Lc 4,18), proclamada no Cântico de Maria, a mãe de Jesus. “O Senhor derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humilhados. Encheu de bens os famintos, e mandou embora os ricos de mãos vazias” (Lc 1, 52-53).

A realidade econômica pode ser modificada! O Evangelho pode inspirar a sociedade a buscar modelos de organização econômica. A mensagem de Jesus é incompatível com uma economia excludente, injusta e violenta. Deus é Deus dos pobres. Pobre entendido não somente como classe social explorada economicamente, mas também o negro, o indígena, a mulher, a comunidade LGBT, o migrante, o idoso, a população em situação de rua.

O primeiro critério para discernir a economia que temos e sonhar uma economia que queremos é estar ao lado dos descartados e espoliados. Eles desmascaram os responsáveis pela violência. O segundo critério é reconhecer o sistema econômico como pecado do mundo (Jo 1,29).

Há uma violência institucionalizada. A perversidade do capitalismo é estimulada pela idolatria do dinheiro. “Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mt 6,24; Lc 16,13). Essa é a sentença mais anticapitalista da história.

Todo sistema alicerçado na injustiça e na violência contém elementos idolátricos. A idolatria do dinheiro é o pressuposto mais disfarçado do capitalismo. A adoração do dinheiro não é apenas um pecado contra Deus, é também a maior ameaça à vida. Coloca em risco o planeta inteiro.

“No centro do sistema econômico está o deus dinheiro. Todo sistema centrado no deus dinheiro necessita saquear a natureza” (Papa Francisco). A humanidade não foi criada para ser uma escrava do dinheiro. O Cristianismo é sempre subversivo diante das estruturas de poder.

O cristão será julgado pela maneira como reage diante de Deus que se identifica com os que tem fome, os migrantes e refugiados, os presos, os doentes desassistidos (cf. Mt 25,31-46).

Duas atitudes devem ser superadas: apego às riquezas e indiferença aos pobres. A parábola do rico e de Lázaro (Lc 16, 19-31) é paradigmática para se pensar outro modelo de economia. A indiferença ao pobre que “morre às portas dos ricos é pecado que leva à morte” (Lc 16,20).

A alternativa para a indiferença dos ricos está na organização dos “Lázaros” da sociedade. Jesus, ao partilhar os pães com a multidão que tem fome, aponta que o Reino está entre nós (Jo 6,1-15). Participar do banquete da Eucaristia pressupõe um comprometimento com esse projeto de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mc 6,37).

O Verbo se fez carne para que todos tenham vida em abundância (Jo 10,10). Ou afirmamos a vida ou negamos a vida. Este é o horizonte de Jesus. Os relatos de Atos 2, 44-45 e Atos 4, 32-35 exemplificam que compartilhar os bens vitais para que não haja indigentes na comunidade cristã é central na vida cristã.

É preciso sair desta economia baseada na concentração egoísta da riqueza e que destrói a natureza. Romper com a ditadura do consumismo. Sair do homo economicus e construir o homo ecologicus que convive em harmonia com a natureza. Não haverá futuro sem esta conversão.

A economia é um instrumento a serviço da vida. O melhor modelo econômico é aquele que preserva a dignidade humana, bem comum e o cuidado da casa comum (Laudato Sí, n. 156). “Cada dia nos é oferecida uma nova oportunidade, uma etapa nova. Não devemos esperar tudo daqueles que nos governam. Alimentemos o que é bom, e coloquemo-nos ao serviço do bem” (Fratelli tutti, n. 77).

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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