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Pensar o Ser Humano 2: Paul Ricoeur

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Elton Vitoriano Ribeiro SJ

O pensamento filosófico contemporâneo apresenta vários e importantes trabalhos sobre a pergunta fundamental: o que é o ser humano? Pensar o humano, hoje, construindo um pensamento que tenha relevância para os homens e mulheres é um desafio. Em meu texto anterior, dessa série Pensar o Ser Humano, apresentei o filósofo Charles Taylor. Agora, nosso filósofo será o aclamando pensador Paul Ricoeur e seu texto: “O si-mesmo como outro” (1990).

Em “O si-mesmo como outro”, Ricoeur interpretará a questão da identidade humana resgatando a reflexão sobre o sentido e o destino contemporâneo das filosofias do sujeito. A questão da identidade para Ricoeur passa por algumas questões fundamentais que apontam para uma hermenêutica do si-mesmo que implica a alteridade num grau tão íntimo que uma não pode ser pensada sem a outra, uma está entranhada na outra. Nesse percurso de autocompreensão, o sujeito é influenciado pela sua cultura, pelas suas relações e pela sua história. O sujeito só descobre a si-mesmo após um longo percurso de mediações na quais sofre transformações significativas.

Assim, o sujeito pensante e reflexivo é marcado, profundamente, pelo desejo de ser e pelo esforço de existir. Desejo e esforço que constituem a tessitura da própria condição humana no mundo. Por isso mesmo, para Ricoeur: “O aparecimento da palavra vida merece reflexão. Ela não é tomada em sentido puramente biológico, mas no sentido   ético-cultural, bem   conhecido   dos   gregos, quando comparavam os respectivos méritos dos bios oferecidos à escolha mais radical:  vida de prazer, vida ativa no sentido político, vida contemplativa. A palavra vida designa o homem inteiro em oposição às práticas fragmentadas (RICOEUR, O si-mesmo como outro, 2014, p.194)”.

No percurso de construção da hermenêutica do si-mesmo, o filósofo reconstrói a reflexão a partir da filosofia da linguagem, da filosofia da ação e da ética, moral e política; para chegar a compreender-se diante da existência humana no mundo histórico. Então, para Ricoeur, hermenêutica será interpretar a vida diante do espelho do texto. Nesse interpretar, o sujeito se descobre um ser frágil e falível, mas capaz de agir, de falar, de narrar, de prometer, de sonhar, de amar, de perdoar, de decidir, de reconhecer, de tolerar, em uma palavra, de interpretar a si-mesmo diante da vida, com os outros, em instituições justas, no mundo histórico e radicalmente aberto ao mistério do existir.

Elton Vitoriano Ribeiro SJ é professor e pesquisador no departamento de Filosofia da FAJE

Foto: Reprodução

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