Luiz Sureki SJ
Quem costuma tirar alguns minutos diários para “navegar” – ou para ficar à deriva? – nos mares nem sempre tão profundos das redes sociais, encontra, por vezes, certas “curiosidade” que levam a pensar. Ainda que essas tais “leis” não sejam realmente “as mais famosas do mundo”, sempre podemos tirar algum proveito delas para nossa vida.
- Lei de Murphy: “Quanto mais você teme que algo aconteça, mais provável é que ocorra.”
A Lei de Murphy original teria surgido no contexto da engenharia aeroespacial nos EUA (década de 1940), com a frase: “Se algo pode dar errado, dará” (atribuída ao engenheiro Edward A. Murphy Jr.). A versão sobre “temor e probabilidade” é uma adaptação posterior, influenciada por observações cotidianas e psicologia intuitiva. Por que parece ser verdadeira?
Desde um viés cognitivo podemos mencionar o efeito da atenção seletiva. Quando tememos um evento, ficamos hipervigilantes a sinais de que ele pode ocorrer, ignorando situações semelhantes em que nada deu errado. Ficamos lembramos mais dos casos em que o medo se realizou e esquecemos os que não se concretizaram.
O medo excessivo pode levar a ações que aumentam o risco do evento temido. Quem teme gaguejar em uma apresentação pública pode ficar tão nervoso que efetivamente gagueja. Um motorista com medo de bater o carro pode dirigir de forma hesitante, aumentando o risco de colisão. De fato, acidentes podem acontecer não tanto por incapacidade do condutor do veículo, mas justamente pelo seu medo de se envolver em algum acidente. É preciso reconhecer que o pânico piora decisões e que a ansiedade distorce a percepção de probabilidades.
- Lei de Kidlin: “Se você escrever um problema de forma clara e específica, terá resolvido metade dele.”
A Lei de Kidlin é um princípio pragmático que destaca o poder da definição precisa na resolução de desafios. Embora sua origem exata seja incerta (possivelmente ligada a campos como gestão de projetos ou psicologia cognitiva), ela sintetiza ideias validadas por ciência e experiência prática. Por que essa “lei” funciona?
Em primeiro lugar porque a clareza reduz a complexidade. Problemas mal definidos são nebulosos e paralisantes. Ao escrevê-los com precisão, isolamos sua causa e podemos dividi-lo em partes menores para solucioná-lo. O ato de escrever exige organização das ideias, acionando o córtex pré-frontal (área do cérebro responsável por planejamento e solução de problemas). Estudos em psicologia cognitiva mostram que externalizar pensamentos reduz vieses emocionais. Uma definição clara gera critérios mensuráveis para a solução. Parte fundamental de um projeto de pesquisa de pós-graduação consiste em ter clareza sobre o problema que se está investigando.
- Lei de Gilbert: “Quando você assume uma tarefa, encontrar as melhores maneiras de alcançar o resultado desejado é sempre sua responsabilidade.”
A Lei de Gilbert é um princípio de autogestão e eficácia que enfatiza a accountability (prestação de contas) e a proatividade na execução de objetivos. Embora menos conhecida que outras “leis” pragmáticas, ela sintetiza ideias fundamentais da psicologia do desempenho, gestão e liderança.
A “lei” remete ao trabalho de Thomas F. Gilbert (1927–1995), pioneiro da psicologia do desempenho humano e autor de “Human Competence: Engineering Worthy Performance” (1978). Gilbert defendia que resultados dependem de comportamentos, e comportamentos dependem de estratégias bem desenhadas; e que a responsabilidade pelo desempenho é sempre do executor – mesmo que fatores externos interfiram. Por que essa “lei” funciona?
Primeiramente porque elimina a mentalidade de vítima. Frases como “Não consegui porque não me deram recursos” são substituídas por “Como posso resolver com o que tenho?”. Além disso, ela promove criatividade e resiliência. A obrigação de encontrar “as melhores maneiras” força a explorar caminhos não óbvios. E, por fim, ela alinha autonomia e responsabilidade. Na prática, significa que se você aceitou a tarefa, aceitou a missão de fazê-la funcionar.
- Lei de Wilson: “Se você priorizar conhecimento e inteligência, o dinheiro continuará a vir.”
A Lei de Wilson é um princípio que destaca o valor do capital intelectual como alicerce para prosperidade sustentável. Embora não seja uma “lei” no sentido científico, ela encapsula uma verdade observável em diversos contextos históricos, econômicos e individuais. Ela sugere que investir em competências e sabedoria prática gera retorno financeiro como consequência natural, não como objetivo imediato. Por que essa “lei” funciona?
Porque no século XXI, ativos intangíveis – como habilidades e criatividade – valem ou podem valer mais que recursos físicos. Na Tech Industry, pessoas como Bill Gates (Microsoft) e Mark Zuckenberg (Facebook) construíram impérios baseados em conhecimento técnico. Assim, um médico que estuda novas tecnologias (como IA em diagnósticos) tende a manter relevância e renda.
- Lei de Falkland: “Se você não precisa tomar uma decisão sobre algo, então não decida.”
Esta máxima, também conhecida como Princípio de Falkland, é um lembrete poderoso sobre gestão de energia mental e priorização estratégica. Embora sua origem exata seja incerta, a “lei” sintetiza um princípio pragmático: não gaste recursos em decisões desnecessárias. O caso é que nem toda decisão merece atenção; que adiar escolhas irrelevantes libera espaço mental para o que realmente importa; e que muitas “decisões” são apenas preocupações disfarçadas. Porque “seguir” essa “lei”?
Primeiramente porque o cérebro tem um limite diário de decisões. Estudos realizados por psicólogos, como Roy Baumeister, forjaram o conceito da fadiga decisional. Gastar energia com trivialidades reduz a capacidade para escolhas críticas e importantes. Em segundo lugar, porque decidir por decidir leva muitas vezes a ações impulsivas. “Fazer algo é sempre melhor que não fazer” pode ser uma crença equivocada. Por vezes, esperar pode ser ótimo. Nem toda batalha vale a pena! Pese o fato de que “algumas coisas estão sob nosso controle, outras não”, já dizia Epicteto. A Lei de Falkland é um antídoto contra a ansiedade moderna da hiperdecisão. A sabedoria está tanto em escolher quanto em saber o que ignorar.
Neste sentido, a mesma sabedoria recomenda ao leitor, à leitora, ponderar sobre essas “leis”, escolher o que lhe ajuda e ignorar o que não lhe ajuda.
Luiz Sureki SJ é professor e pesquisador no departamento de Filosofia da FAJE
05/05/2025
Foto: Nicoleta Ionescu / Shutterstock