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Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral

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Geraldo De Mori SJ

Fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19)

Entre os dias 3 e 6 de maio, um grupo de instituições católicas de Belo Horizonte (FAJE, ISTA, PUC Minas, Centro Loyola), com o apoio de várias instituições católicas do Brasil, realiza o Primeiro Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral. O tema escolhido “Discernir a pastoral em tempos de crise: realidade, desafios, tarefa”, é uma oportunidade para viver o mandato de Jesus na última ceia: “fazei isso em memória de mim” (Lc 22,19).

Certamente o mandato de reiterar o ato do “partir o pão”, em memória do mistério da entrega de sua vida até o ato supremo, evoca fundamentalmente o que se celebra na eucaristia, enquanto sacramento do corpo e do sangue do Senhor entregue para o perdão dos pecados. Contudo, o que se celebra em sacramento, deve traduzir-se na vida de cada fiel que participa da “Ceia do Senhor” e da comunidade na qual isso é celebrado. Portanto, o ato de fazer memória tem muitos significados. Não se reduz ao gesto litúrgico celebrado em cada eucaristia, mas inscreve-se na história de quem celebra. E o fazer memória não é somente recordar-se de algo acontecido no passado, mas é trazer esse passado para o presente de quem o celebra. Com isso, o ato passado se torna presente de novo. E é importante ainda insistir, não como repetição meramente ritual do que aconteceu no passado, mas como gestos novos vividos por quem celebra no lugar e tempo que celebra.

Em que sentido um evento acadêmico e pastoral, como um congresso de teologia, é um ato eucarístico de fazer memória? No sentido apontado por João XXIII no discurso de abertura do Concílio Vaticano II. Segundo ele, o Concílio não tinha que elaborar novos dogmas, novas doutrinas, nem condenar os que os colocavam em questão. Urgia, mais do que nunca, traduzir a imensa riqueza do “depósito da fé” em linguagem compreensível, que pudesse dar sentido à vida dos fiéis e tornar sua fé relevante na sociedade. Vários teólogos, ao relerem esse discurso e a ênfase dada por ele à “pastoral”, têm insistido muito no princípio da “pastoralidade” como central para se compreender o que quis o Concílio.

O que seria o princípio da pastoralidade? Nada mais do que realizar o mandato da última ceia: “fazei isso em memória de mim”, ou seja, ajudar os discípulos e discípulas de Jesus a repetirem em cada lugar e tempo o que o Mestre havia realizado, ou seja, repetir os gestos jesuânicos. As igrejas locais devem ser as principais intérpretes do mandato do Nazareno, no sentido de perceberem quais são as melhores respostas, diante dos desafios dos “sinais dos tempos”, que melhor encarnam a realização da memória viva de seu Senhor.

No Brasil, a CNBB é a instância de discernimento, para o conjunto dos fiéis católicos do país, dos novos desafios para tornar viva, significativa e atuante a memória de Jesus de Nazaré no território nacional. Em geral, todos os anos ela se reúne, seja em assembleia nacional, seja nas assembleias dos Regionais. As dioceses também, através de várias instâncias, buscam incessantemente estar à escuta do que o “Espírito diz às Igrejas” (Ap 2,7). Nos últimos anos, as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) têm estado atentas, sobretudo, às grandes mudanças provocadas pelo processo de urbanização do país, com o surgimento de uma sociedade cada vez mais plural, na qual o indivíduo, com seus desejos, frustrações e sonhos, torna-se cada vez mais importante. Já na Conferência de Aparecida, essa preocupação com a subjetividade tinha ganhado importância. Nas últimas DGAE (2019-2023), a pastoral urbana e a ênfase em temas da sociedade pós-moderna são importantes na proposta de se pensar a evangelização a partir dos quatro pilares de uma casa: Palavra, Pão, Caridade, Missão. Com a urgência sanitária, provocada pela pandemia da Covid-19, novas questões foram colocadas ao ato de “fazer memória” de Jesus (= pastoral) nas comunidades eclesiais do país. Impedidas de realizarem suas atividades habituais, elas tiveram que utilizar os recursos tecnológicos e digitais para suas liturgias, reuniões, atividades de proposição da fé na catequese, nos grupos de evangelização e na formação de lideranças. Também foram obrigadas a inventar novas formas de acompanhamento dos mais vulneráveis, dos que eram atingidos pela pandemia, das pessoas obrigadas a longos períodos de isolamento.

O papel da teologia no ato de fazer memória de Jesus é o de ajudar os fiéis e os pastores da Igreja para que possam estar “prontos da darem as razões de sua esperança” (1Pd 3,15) diante de cada nova situação em que se encontram, com os desafios que levantam ao testemunho cristão. Trata-se, portanto, de um serviço ao “povo santo de Deus”, como insiste tanto o papa Francisco, e ao magistério. Nesse sentido, o Congresso Brasileiro de Teologia Pastoral, que reunirá teólogos e teólogas de todo o Brasil, estudantes de teologia e muitas pessoas envolvidas na pastoral, quer ser um momento de escuta das questões de nosso tempo, à luz da memória de Jesus, para que, diante dos novos sintais dos tempos, possamos continuar realizando os mesmos gestos jesuânicos. Além de palestras, painéis e seminários temáticos, que discutirão muitas questões levantadas hoje na pastoral concreta da Igreja do Brasil, também haverá a apresentação de comunicações, que são pesquisas realizadas por estudantes, professores e professoras de teologia. Também serão apresentadas algumas experiências significativas da pastoral. Oxalá esse evento acadêmico e pastoral possa abrir novas pistas para a pastoral no Brasil. Para os que se interessarem, a maioria das atividades serão de acesso livre. Basta clicar na página do Portal da FAJE que dá informações sobre o congresso, que lá estarão os links dessas atividades: https://www.faculdadejesuita.edu.br/congresso-de-teologia-e-pastoral–120/congresso-de-teologia-e-pastoral–120

 

Geraldo Luiz De Mori SJ é professor e pesquisador do departamento de Teologia da FAJE.

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