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Diversidade: afirmar as diferenças, promover a igualdade em Cristo

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Élio Gasda SJ

 

 Vivemos sociedades plurais. Mas a ideologia patriarcal de que só existe macho-fêmea, masculino-feminino, homem-mulher (binarismo) divide o mundo: de um lado os dominadores, do outro os dominados. Fundada no domínio masculino sobre o feminino, estruturas binárias estão em todas as partes distorcendo relações sociais.

A realidade é muito mais rica e plural do que doutrinas. Pessoas diversas, corpos diferentes! Criação de Deus! A sexualidade humana é dom de Deus. A identidade da pessoa não pode se resumir a normas da heteronormatividade do tradicionalismo moralista. A pessoa é una, não pode ser dividida em corpo e alma. Impossível separar o ser de fé do ser LGBTQI+. Na liturgia, na espiritualidade, na vida afetiva-sexual, no serviço ao próximo, nos relacionamos com Deus.

Que tipo de cristianismo é esse que substitui a relação com Deus por um moralismo que exclui e discrimina pessoas por causa de sua orientação sexual ou identidade de gênero divergente? O amor é fonte do cristianismo. “Em Deus não há parcialidade” (Rom 2,11).

No Brasil, onde os “terrivelmente evangélicos” perseguem os LGBTQI+ é difícil ser cristão. E ser cristão homossexual, mais ainda! Ódios são vomitados o tempo todo. Direitos humanos retirados e a vida ameaçada. Em 2021, uma pessoa LGBTQI+ foi assassinada a cada 27 horas no país.

Fé como resistência! O cristianismo possui um horizonte de amor, justiça e fraternidade. Jesus andava com os discriminados, excluídos e condenados por comportamentos considerados imorais pelas autoridades religiosas (Mc 2,13-17). Apesar das perseguições, criou comunidade de iguais.

Existem muitas igrejas cristãs sensíveis aos discriminados, comunidades inclusivas. Pessoas LGBTQI+ ocupam cargos, pregam, são catequistas e ministros, ou seja, exercem funções de um fiel hetero. Infelizmente, no tema da sexualidade algumas comunidades não superam o moralismo das doutrinas anacrônicas quanto ao gênero e sexualidade herdeiras do modelo heteronormativo patriarcal: São todos bem-vindo, desde que se encaixem em nossos critérios!

Não basta acolher e incluir. É preciso reconhecer e afirmar as diferenças e celebrar a diversidade como “dom de Deus”! Sim, existem igrejas assim, afirmativas! Romperam as barreiras discriminatórias da heteronormatividade.

Para viver a igualdade é preciso afirmar as diferenças. “O termo inclusão já não é capaz de compreender as novas configurações das relações entre religião e sexualidade” (Ana Ester). Incluir de fato na igualdade em Cristo, participação plena! A luta por direitos é pauta pastoral. “Se as igrejas militantes latino-americanas desafiam as estruturas políticas e econômicas de opressão, mas não questionam as epistemologias patriarcais, elas funcionam como servas do sistema” (Marcella Althaus-Reid).

A diversidade é um convite ao diálogo. A cultura do encontro se gesta na pluralidade. Derrubar muros e construir pontes é tarefa que começa dentro das igrejas: reconhecer e respeitar, acolher e incluir independente das condições socioeconômicas, culturais ou da orientação sexual e identidade de gênero.

Que as pessoas LGBTQI+ sintam-se encorajadas a ocupar seu lugar na comunidade, de tomar a palavra com liberdade e sentir orgulho de suas demandas pastorais. Assim, as comunidades cristãs podem celebrar as pluralidades sexuais e as diferenças identitárias com alegria. Que as igrejas, as instituições, as famílias, sejam espaços de afirmação da diversidade!

Amar como Jesus é conviver com as diferenças, reconhecer e promover. A dificuldade de amar não é de Deus, mas da pessoa que abusa do nome de Deus para justificar preconceitos e sua dureza de coração.  Que o amor vença o ódio! Basta de presenças silenciadas de visibilidades sem voz.

O enfrentamento e superação das formas de discriminação deveria ser compromisso de todo cristão. Basta de racismo, de sexismo, de machismo e homotransfobia nas igrejas. Que sejamos pessoas acolhedoras, inclusivas e afirmativas das diferenças.

A orientação sexual é dimensão intrínseca da “natureza” humana. Somos diferentes. Mas iguais em dignidade: somos criados à imagem e semelhança de Deus. Todo ser humano é filho de Deus. Deus o imaginou como ele é para se realizar humanamente e ser feliz como ele é. “Ser gay ou lésbica é ter recebido uma benção especial de Deus[…] uma maneira de revelar algo a respeito de Sua identidade que os heterossexuais não revelam” (James Empereur).

“Todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3,28). Em Cristo, todo ser humano é destinatário da graça de Deus e herdeiro da vida eterna. Cada pessoa recebe a graça da Vida e encontra a salvação em sua corporalidade sexuada.

Cada ser humano é reflexo do amor de Deus. Celebremos a diversidade! É dom! É amor!

 

Élio Gasda SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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