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Ezequiel: um sacerdote chamado a ser profeta!

Jaldemir Vitório, SJ

O Mês da Bíblia deste ano convida-nos a ler e aprofundar o Livro de Ezequiel e a nos colocarmos na escola de um grande profeta bíblico, cuja pregação conserva toda sua vitalidade, apesar de tão distante no tempo. O lema escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB – “Porei em vós meu Espírito e vivereis” (Ez 37,14) – evoca um momento de seu ministério, quando o profeta se sentiu na obrigação da anunciar esperança, em meio à destruição.

Sua atuação transcorreu toda no contexto do duplo exílio imposto aos israelitas pelos babilônios. O primeiro aconteceu, em 597 a.C., quando o rei com sua corte, bem como a elite social, religiosa e militar, foi levado para a capital do império, Babel, e largado entre as lideranças de outros povos vassalos, a quem, de igual modo, foi imposto o exílio como castigo. O segundo exílio ocorreu, em 587 a.C., ocasião em que um grupo foi deportado e a capital, Jerusalém, com seu templo foi destruída, sendo reduzida a ruínas. Ficaram para trás, apenas, os pobres e os agricultores, incapazes de esboçar uma reação, em face do poder opressor.

O sacerdote Ezequiel estava na primeira leva, como se pode deduzir de Ez 1,1-3. A destruição do templo levou-o a se tornar, no estrangeiro, um sacerdote desempregado, sem possibilidade de exercer seu ministério. Então, o Senhor lhe confiou uma nova missão, muito mais exigente e arriscada do que ser funcionário do sagrado, preocupado com rituais, com questões de pureza e com as coisas de Deus: chamou-o a ser profeta. Estando junto aos exilados, o sacerdote “viu os céus se abrirem e teve visões de Deus”; “ali pousou sobre ele a mão de Deus”. Sua vida sofreu uma guinada!

Sentiu-se chamado a atuar como “sentinela” de Israel e estar atento a tudo quanto acontecia com o povo. Deus lhe falou: “filho do homem, eu o coloquei como sentinela para a casa de Israel” (Ez 3,17; 33,7). Doravante, sua missão consistiria em fazer um incessante discernimento do comportamento dos israelitas e denunciar as incongruências de seu modo de agir, em confronto com o querer divino. Foram muitas as infidelidades constatadas, entre as quais se destacava a idolatria que contaminou o templo, habitação de Deus, com toda sorte de divindades estrangeiras. Deus mesmo se sentia desconfortável com essa presença indesejada, pois “havia ali toda sorte de imagens de répteis, de animais repugnantes e todos os ídolos imundos da casa de Israel gravados na parede ao redor” (Ez 8,10). A inquietação maior dizia respeito à injustiça que campeava, acobertada por um culto incapaz de denunciar os malfeitos dos adoradores de Deus.

O profeta dava-se conta da responsabilidade das lideranças, a começar pelo rei, que, ao invés de cumprir sua obrigação, tornavam-se os primeiros a submeter o povo aos seus caprichos. Deus mesmo os denuncia: “Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos. […] Não há quem procure ou quem vá em busca do meu rebanho!” (Ez 34,2.6). Os pobres e os indefesos eram as primeiras vítimas da corrupção dos líderes, submetidos a toda sorte de injustiça. Coisas execráveis se espalhavam por toda parte: há quem “chegue a comer nos montes [prática dos cultos idolátricos], desonre a mulher do seu próximo, explore o pobre e o necessitado, cometa furto e não devolva o penhor, eleve os seus olhos para os ídolos imundos e cometa abominações, empreste com usura e aceite juros” (Ez 18,11-13). Quem agia assim se colocava na contramão de Deus, de forma a atrair castigos para si.

O discernimento do profeta permitia-o constatar a situação delicada em que os israelitas se encontravam. Na concepção da época, cada povo possuía sua divindade protetora que o livrava dos ataques inimigos e o defendia nos momentos de aflição. Em face das infidelidades de Israel, chamado por Deus de “casa de rebeldes” (Ez 2,5), Ezequiel tem uma visão em que a “Glória de Deus”, carregada por querubins, desloca-se e se detém junto da porta oriental do Templo de Deus” (Ez 10,19). Num segundo movimento, “a Glória de Deus elevou-se de sobre a cidade e pousou em cima do monte que ficava para o Oriente” (Ez 11,23). O sentido da visão era patente: já que a divindade protetora de Israel havia abandonado sua morada e a cidade, Jerusalém estava prestes a ser destruída pelos inimigos, não havendo quem a protegesse. Prenúncio do fim!

A conhecida visão dos ossos secos serve de metáfora para o presente e o futuro de Israel (Ez 37). A aniquilação, representada pelos ossos abundantes e muito secos, espalhados na superfície do vale (v. 2), passaria por uma reviravolta, pela ação de Deus e seu espírito vivificador. A esperança despontava no futuro, pois Deus mesmo prometera: “porei o meu espírito dentro de vocês e haverão de reviver: eu recolocarei vocês em sua terra e vocês saberão que eu, o Senhor, falei e hei de fazer” (v. 16). A ação divina focava o mais íntimo do Israel desobediente, castigado por sua falta de juízo. Deus promete: “aspergirei água sobre vocês e vocês ficarão puros. Purificarei vocês de todas as imundícies e de todos os ídolos imundo. Dar-lhes-ei um coração novo e colocarei no íntimo de vocês um espírito novo. Tirarei do peito de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei no íntimo de vocês o meu espírito e farei com que vocês andem de acordo com os meus estatutos e guardem as minhas normas e as pratiquem” (Ez 36,25-27).

No entanto, a promessa dependia do acolhimento da proposta de Deus a seu povo: “joguem fora todas as transgressões que vocês cometeram, criem um coração novo e um espírito novo. Por que vocês haverão de morrer, ó casa de Israel? Eu não tenho prazer na morte de quem quer que seja. Convertam-se e haverão de viver” (Ez 18,31-32). Converter-se se tornava o pressuposto da salvação!

A profecia de Ezequiel, nem sempre fácil de ser compreendida, comporta elementos importantes para a vivência do compromisso com o Reino, por parte das discípulas e dos discípulos de Jesus de Nazaré. Como o profeta de outrora, os batizados são investidos na tarefa de “sentinelas” do povo, nos caminhos tortuosos da história, permeados de injustiça e toda sorte de crueldade cometida contra os mais fracos em indefesos. Por consequência, se verão com a espinhosa missão de denunciar os malfeitos e proclamar suas consequências. Todavia, deverão se guardar da tentação de se alegrar com o castigo do pecador. Antes, deverão estar sempre abertos para conclamar a conversão e se predisporem para a anunciar esperança, quando se veem em meio de “um vale cheio de ossos secos” (Ez 37,1).

Jaldemir Vitório, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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