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Não há cristianismo sem liturgia – a visão litúrgica de Francisco

Washington Paranhos, SJ

“Na história da Igreja verificou-se repetidamente a tentação de se praticar um cristianismo intimista, que não reconhece a importância espiritual dos ritos litúrgicos públicos”. Foi assim que o Papa Francisco abriu a catequese no dia 03 de fevereiro de 2021[1]. Uma catequese dedicada à liturgia e ao valor que ela assume na vida da Igreja.

Pretendemos apresentar algumas ideias-chave do caminho conciliar e a reforma litúrgica nesses 60 anos da promulgação da Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium, e iniciamos com a visão litúrgica do Papa Francisco. Sendo ele filho do Concílio, afirma que não se pode aceitar o Vaticano II e  recusar a reforma litúrgica nascida dele. “Não vejo como é possível dizer que se reconhece a validade do Concílio, embora me surpreenda que um católico possa presumir não fazê-lo, e ao mesmo tempo não aceitar a reforma litúrgica nascida da Sacrosanctum concilium”, escreve o papa Francisco na carta apostólica sobre a liturgia (DD 31).

Na catequese já mencionada, o Papa falou que “na Igreja é possível encontrar certas formas de espiritualidade que não souberam integrar adequadamente o momento litúrgico. Muitos fiéis, embora participassem assiduamente nos ritos, especialmente na Missa dominical, sorviam alimento para a sua fé e para a sua vida espiritual sobretudo de outras fontes, de tipo devocional”.  Ainda que nas últimas décadas tenhamos conseguido perceber que houve muito progresso. E a Constituição Sacrosanctum concilium, do Concílio Vaticano II, representa o centro deste longo caminho.

A constituição Sacrosanctum concilium reafirma de maneira completa e orgânica a importância da liturgia para a vida dos cristãos, que nela encontram a mediação objetiva exigida pelo fato de Jesus Cristo não ser uma ideia nem um sentimento, mas uma Pessoa viva, e o seu Mistério, um acontecimento histórico.

De forma contundente o Papa observa que não existe espiritualidade cristã que não esteja enraizada na celebração dos mistérios sagrados:

A liturgia, em si mesma, não é apenas oração espontânea, mas algo cada vez mais original: é um ato que fundamenta toda a experiência cristã e, por conseguinte, também a oração. É acontecimento, é evento, é presença, é encontro. É um encontro com Cristo. Cristo faz-se presente no Espírito Santo através dos sinais sacramentais: disto, para nós cristãos, deriva a necessidade de participar nos mistérios divinos. Um cristianismo sem liturgia, ousaria dizer que talvez seja um cristianismo sem Cristo. Sem o Cristo total. Até no rito mais despojado, como o que alguns cristãos celebraram e celebram nos lugares de prisão, ou no escondimento de uma casa durante tempos de perseguição, Cristo está verdadeiramente presente e doa-se aos seus fiéis.

Concretamente, o Pontífice nos diz que a liturgia, precisamente pela sua dimensão objetiva, precisa ser celebrada com fervor:

A oração do cristão faz sua a presença sacramental de Jesus. O que nos é exterior torna-se parte de nós: a liturgia expressa isto também no gesto muito natural de comer. A Missa não pode ser somente “ouvida”: também a expressão “vou ouvir a Missa” não é correta. A Missa não pode ser só ouvida, como se fôssemos apenas espectadores de algo que escorre sem nos envolver. A Missa é sempre celebrada, e não apenas pelo sacerdote que a preside, mas por todos os cristãos que a vivem. E o centro é Cristo! Todos nós, na diversidade dos dons e ministérios, nos unimos na sua ação, porque Ele, Cristo, é o protagonista da liturgia.

A vida é chamada a tornar-se culto a Deus, mas isto não pode acontecer sem a oração, especialmente a oração litúrgica. A descrição que Francisco faz da prática litúrgica recupera o valor do rito como dimensão significativa tanto na antropologia quanto na teologia, com implicações para a Igreja também no espaço público.

O triênio 2022-2025, intervalo em que se insere o sexagésimo aniversário da celebração do Concílio Vaticano II (1962-1965), já apresenta duas ressonâncias importantes em relação ao último grande momento de encontro e reforma da Igreja Católica. O primeiro é o sínodo de outubro de 2023, para o qual em 2021 o Papa Francisco convocou toda a Igreja, prevendo diferentes fases – local, nacional, continental e universal; a segunda é a confirmação da retomada, durante este pontificado, da liturgia como elemento decisivo para a recepção e realização do Concílio.

O último elemento que confirma a centralidade da liturgia para o pontificado de Francisco é a publicação, em 29 de junho, da carta apostólica Desiderio desiderivi, “sobre a formação litúrgica do povo de Deus”. O documento deve ser lido no contexto inaugurado pelo motu proprio de julho de 2021, Traditionis custodes, com o qual Francisco limitou as chamadas “missas latinas”, as celebrações segundo o rito de Pio V antes da reforma litúrgica do Vaticano II. A decisão do papa Bergoglio resultou de uma consulta sobre as condições de “saúde litúrgica” das comunidades eclesiais, especialmente em relação à Igreja global e para evitar derivas sectárias após a liberalização do rito pré-conciliar (que foi considerado revogado pelo Vaticano II) concedida pelo papa Bento XVI em 2007.

Mas se a condução do sínodo em todas as suas fases e a teologia da sinodalidade (como estruturar as consequências de uma Igreja que considera os sínodos essenciais para sua identidade, a fim de se livrar do modelo monárquico-clerical ainda vigente), que emerge das indicações e declarações do Vaticano e do pontífice, permanecem em grande parte por esclarecer.  O juízo sobre a visão litúrgica de Francisco é diferente; uma visão madura em particular no plano das convicções e dos objetivos, que pode contar com as aquisições do movimento litúrgico e com a contribuição do Vaticano II. Isso evita que seja considerado um assunto “interno”, de pouco interesse para os não especialistas. Pelo contrário, a recuperação por Francisco da teologia da liturgia do Vaticano II tem implicações para a Igreja mesmo no espaço público.

Retomando a catequese do Papa, poderíamos dizer que Francisco faz um convite a não se ter medo da missa. Na liturgia eucarística, todos devem sentir-se cada vez mais em casa. Daí a proposta: é preciso recuperar a dimensão familiar da liturgia, que nos deixa à vontade. Dar a conhecer o que se celebra, à maneira e nas condições de cada um, mas sempre em torno de Jesus Cristo como fator decisivo.

Para concluir esta primeira visão, depois de recordar a importância da Constituição Sacrosanctum Concilium do Vaticano II, que levou à redescoberta da compreensão teológica da liturgia, o Papa acrescenta: “Gostaria que a beleza da celebração cristã e as suas necessárias consequências na vida da Igreja não fossem deturpadas por uma compreensão superficial e redutiva do seu valor ou, pior ainda, por uma instrumentalização a serviço de alguma visão ideológica, seja qual for” (DD 16).

A fé cristã, escreve Francisco, ou é um encontro com Jesus vivo ou não é. E a liturgia garante-nos a possibilidade desse encontro.

 

Washington Paranhos, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

[1] Francisco, https://www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2021/documents/papa-francesco_20210203_udienza-generale.html. Acesso em 05/09/2023.

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