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Palavra do Reitor

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(Discurso de posse do Reitor Prof. Dr. Pe. Elton Vitoriano Ribeiro SJ, em 01/03/2021)

Um novo triênio 2021-2023 começa

Iniciamos neste ano de 2021 um novo triênio da Faculdade Jesuíta com várias mudanças, entre elas, a do cargo de Reitor da instituição. O cargo de Reitor, apesar do nome pomposo e cheio de simbolismo, que etimologicamente nos conduz à ideia de reger e governar; nas sociedades contemporâneas aproxima-se mais da função de servir e animar a instituição a seguir sua missão e seus objetivos, previamente traçados pela comunidade acadêmica. Nesse sentindo, no novo triênio que estamos começando temos uma bússola a indicar nossos caminhos no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2021-2025.

O PDI aponta os caminhos, mas, como aprendemos com a filosofia e a teologia, nossas vidas são históricas, encarnadas, vividas em contextos específicos e influenciadas por imaginários sociais que herdamos de nossas tradições e visões de mundo. Somos seres históricos. Assim, os desafios de nossa sociedade, e para nós aqui na Faculdade Jesuíta, os do Cristianismo, não nos são indiferentes. Esse é o solo onde enraizamos nossas vidas e construímos nossas narrativas. Por isso, a pandemia da Covid-19 afeta profundamente nossos caminhos. Nessa pandemia temos testemunhado momentos de luzes e de sombras. Por um lado, nossa vulnerabilidade e fragilidade existencial estão diante de nossos olhos, seja no sofrimento infringido pelas doenças, seja na vultuosidade do número de mortos. A desigualdade social, sempre escamoteada pelos governantes, torna-se evidente, e a sobrevivência cotidiana de grande parte da população configura-se como uma luta diária pelo próprio alimento. Essa desigualdade se estende, e isso para nós é importante, na desigualdade de acesso à educação e no abandono precoce dos mais pobres do ensino formal nas escolas e faculdades. Apenas uma pequena parcela da população juvenil consegue chegar até o ensino superior e as consequências dessa exclusão afetam o mercado de trabalho e aumentam o desemprego crescente da sociedade brasileira. Finalmente, os próprios cristãos estão divididos, muitas vezes enchafurdados em

ideologias paralisantes que leem o evangelho como palavra de condenação e não como palavra de salvação.

Por outro lado, observamos uma cultura do diálogo, da conscientização e da fraternidade florescer em muitas partes do mundo. Isso acontece desde gestos simples de acolhimento, até ações maiores de construção de políticas públicas e lutas por mais justiça social. Uma cesta básica a quem precisa, a criação de auxílios para quem está sem emprego, a organização das Igrejas para celebrarem sua fé dentro de padrões de segurança sanitária, o desafio de organizar as escolas e faculdades para continuarem sua missão de formar homens e mulheres. Muita coisa está sendo feita em favor da vida. Viver e agir a partir dos desafios concretos que encontramos, eis o desafio cotidiano.

Nossa comunidade acadêmica sempre buscou viver os desafios calcados na esperança alimentada pela fé cristã. Enfrentamos os desafios buscando soluções criativas e participativas. Todos juntos somos importantes nessa comunidade que se realiza na vida de pessoas concretas, com suas diferentes habilidades e responsabilidades. Por isso mesmo, será como comunidade acadêmica que enfrentaremos esse novo triênio atentos à missão e aos objetivos que o nosso PDI 2021-2025 nos propõe.

Primeiramente é importante olharmos para a nossa missão. Em todo PDI, a declaração de missão é a declaração dos propósitos que orientam as ações e explicitam os objetivos, proporcionando uma direção e orientando as tomadas de decisões. Nossa missão no novo PDI foi formulada nos seguintes termos: “Formar pessoas com excelência acadêmica em Filosofia, Teologia e Ciências afins, promovendo o diálogo entre a fé e a cultura contemporânea à luz do humanismo cristão, da amizade social e da ecologia integral”. Assim, nessa declaração de missão encontramos o horizonte de interpretação de nossa missão e de nossa tradição, de nosso campo de atuação e de nossos valores. Valores que serão uma concretização dessa mesma declaração de missão, encarnada na concretude histórica em que nos encontramos. Portanto, a declaração de missão fornece o quadro maior ou o contexto vital em que nossos objetivos estratégicos são formulados.

Após uma longa e ampla discussão, nossa comunidade acadêmica chegou a um conjunto de objetivos estratégicos para o PDI 2021-2025. Antes, porém, vale lembrar que esses objetivos estratégicos estão em ampla consonância com as Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus. Preferências que apontam caminhos para a Companhia de Jesus no mundo. Com efeito, em sua inspiração e finalidade, segundo as palavras do Padre Geral da Companhia de Jesus Arturo Sosa, a Companhia possui o desejo de “encontrar a melhor maneira de colaborar com a missão do Senhor, a que mais convém ao serviço da Igreja neste momento, a que melhor podemos realizar com o que somos e temos, buscando fazer o maior serviço divino e bem universal” (Carta a toda a Companhia do Prepósito Geral Padre Arturo Sosa, 19 de fevereiro de 2019).

Nossos Objetivos Estratégicos para o PDI 2021-2025, resumidamente, são:

1. Formação de lideranças juvenis: Investir na formação intelectual, pastoral e espiritual de lideranças juvenis, identificando novas necessidades e linguagens pessoais, sociais e eclesiais, atuando em parceria com as várias obras da Companhia de Jesus, da Igreja e da sociedade;

2. Eclesialidade e espiritualidade: Atuar na formação acadêmica e humana dos vários atores eclesiais e sociais, na busca criativa de propostas pastorais, de intelecção da fé cristã, de estudo dos Exercícios Espirituais e de outras espiritualidades, em parceria e rede com instituições católicas, de outras confissões cristãs e religiosas e não confessionais;

3. Compromisso e incidência social: Oferecer produtos e serviços na área de formação cultural, social e política e atuar em busca de incidência acadêmica em nível nacional e internacional, identificando oportunidades para desenvolver um trabalho em rede com instituições de valores afins;

4. Cultura da ecologia integral: Comprometer-se acadêmica e institucionalmente com a criação de uma cultura da ecologia integral, promovendo, em cooperação com outros agentes, uma incidência socioambiental nos vários âmbitos de presença da instituição;

5. Gestão institucional: Aprimorar o projeto acadêmico, os processos administrativos e as práticas de gestão de pessoas, com o auxílio de colaboradores selecionados, bem formados e identificados com a missão da instituição, fomentando o espírito de equipe, de iniciativa, de criatividade e de profissionalismo, assim como uma cultura de planejamento estratégico.

Finalmente, uma palavra sobre a maneira concreta de conduzir todo esse processo neste triênio que estamos começando. Convidados a recordar a presença sempre alegre e dinâmica de Padre João Batista Libanio na vida desta instituição, sete pessoas sugeriram sete palavras que representariam a vida de Padre Libanio. Uma das palavras possui força heurística para nós neste momento, a palavra equilíbrio, que foi assim explicitada: “Diante da vida e seus mistérios, dos processos culturais e sociais, das aventuras das questões entre fé e razão, Padre Libanio sempre apontava para o equilíbrio. Diante das respostas simplistas que nos inclinam para polos opostos, diante dos extremos que insistem em nos arrastar para um lado, ele mirava o equilíbrio. A palavra equilíbrio, que positivamente é interpretada como busca de harmonia, proporção e juízo prudencial, também se tornou, no pensamento do Padre Libanio, sinônimo de discernimento. A arte do discernimento, ou a arte do equilíbrio, fez de Padre Libanio uma pessoa que, buscando constantemente a lucidez diante da vida, caminhasse serenamente nas veredas das escolhas matizadas”. Queira Deus que o equilíbrio seja nosso melhor guia para discernir os caminhos da vida neste tempo desafiante, que é o que nos toca viver enquanto pessoas e enquanto instituição.

Prof. Dr. Elton Vitoriano Ribeiro SJ

 Reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia

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