Um belo, feliz e abençoado Natal
1 – O Natal e nossos artistas: Nos últimos anos a imagem do cartão de Natal da FAJE foi um presente de um de nossos artistas, até agora alunos e egressos. No ano de 2021 tivemos um bordado de Wilo Haro Efrain; em 2022 uma escultura de Pedro Clevisson Rabelo e em 2023 uma pintura de arte sacra de Luís Renato de Oliveira. Neste ano de 2024 temos um trabalho em arte contemporânea do nosso aluno de teologia Dimas José de Oliveira. A criatividade, fecundidade e generosidade de nossos artistas sempre me encanta e enche de gratidão. Por isso, meu muito obrigado a todos eles que, com sua arte, ampliam nossos horizontes e nos faz ver o Natal como fruto do novo de Deus que sempre irrompe em nossas vidas!
No trabalho desse ano, Dimas nos coloca diante de um anjo. Na tradição popular, os anjos são mensageiros de Deus, eles sempre trazem boas notícias. Mas, esse anjo está de costas para nós, como que nos apontando um caminho. Que caminho é esse? Com as asas abertas, com duas fitas em movimento, com estrelas brilhando, esse anjo nos aponta uma direção. Ele vai adiante, indicando e convidando a um percurso. Que percurso é esse? Eu não vejo o rosto do anjo, mas sinto seu sorriso. Por quê? Diante do anjo vejo uma paisagem que me lembra Van Gogh: cores vibrantes e dramáticas, pinceladas impulsivas e expressivas; algo de importante se anuncia nessa paisagem forte e colorida.
Na auréola do anjo, que nos indica a presença do sagrado, leio sua mensagem: “Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma grande alegria (Lc. 2, 10-12)”. O texto completo citado na imagem reza: ” Não tenhais medo! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. Este é o caminho, este é o sinal anunciado pelo anjo: a simplicidade de uma criança que acaba de nascer. O Natal começa com um anjo que anuncia o nascimento de uma criança! Nada mais simples, nada mais humano, nada mais divino: o nascer!
2- O Natal e o nascer: Nascer é sair do útero da pessoa que me gerou, minha mãe. Por isso mesmo, nascer é reconhecer minha dependência radical e fundamental. Uma dependência que se prolonga no cuidado que recebo. Assim, nascer é um evento entranhado no corpo feminino. Esta dependência inicial foi muitas vezes subestimada. Nascemos, também, nas nossas relações. Somos seres com os outros no mundo. Nossa identidade, nossa personalidade, nosso caráter, nossos desejos, nossas crenças, nossa linguagem, são sempre relacionais e as adquirimos, constantemente, a partir do nascer. Nascemos em inescapáveis situações e horizontes de interpretação. Situações históricas, sociais, étnicas e geográficas. Nascemos numa classe econômica, numa posição social e, especialmente, dentro de relações sociais de poder. Nascer é ser vulnerável de várias maneiras. Às vezes nascemos com incapacidades que marcam profundamente nossas vidas. Mas, para todos nós, nascer é ser radicalmente contingente.
Nascer é tornar-se carne, ser encarnado. Mas, também, o nascer é carregado de simbologia. Em nossa existência como seres de relações e herdeiros de uma imensa rede tecida de significados, nascemos hermeneutas, ou seja, interpretando. Em cada nascimento de uma nova criança, novas possibilidades nascem, novas liberdades e novas criatividades se constituem. As potencialidades geradas por cada nascimento, por cada criança, possuem a força de ajudar a fazer do mundo histórico um mundo melhor.
3- O Natal e nossa fé cristã: Voltando o olhar ao anjo anunciador, leio novamente a mensagem do Evangelho de Lucas desta vez atento às palavras: “Nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!” Jesus Cristo nasceu de uma mulher. Mergulhou no mais profundo de nossa condição humana. Ele é nosso Salvador. Salvação que vamos aprofundar dia-a-dia na oração, na fé, nas relações e nas vicissitudes vida. Minhas amigas e meus amigos: O tempo de natal é um convite a aprofundar a novidade da salvação a nós doada no nascimento de Jesus. Que o nascimento do Salvador nos ensine a ser sinal da presença transformadora de Deus no mundo. Um abençoado Natal e um feliz 2025!
Prof. Dr. Elton Vitoriano Ribeiro SJ
Reitor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia