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Quem não ama finge que reza (Papa Francisco)

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Élio Gasda, SJ

Louvar o Senhor sem amar o próximo é hipocrisia. “Nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai (Mt 7, 21).

Fazer! O fazer cristão, inspirado pelo Espírito de Jesus, é um fazer para o bem do outro. O cristianismo é uma ética prescritiva do amor ao próximo. É sua Lei maior.

A Igreja é um sinal e instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação. Mas “ainda há cristãos que insistem em seguir outro caminho: o da justificação pelas suas próprias forças, o da adoração da vontade humana e da própria capacidade, que se traduz numa auto complacência egocêntrica e elitista, desprovida do verdadeiro amor… A obsessão pela lei, o fascínio de exibir conquistas sociais e políticas, a ostentação no cuidado da liturgia, da doutrina e do prestígio da Igreja, a vanglória ligada à gestão de assuntos práticos, a atração pelas dinâmicas de autoajuda e realização autorreferencial” (Papa Francisco, Gaudete et exultate, n. 57).

É escandalosa a incoerência entre o que se reza, o que se crê e o que se faz. Parece que a fé nada tem a ver com a vida concreta. A espiritualidade cristã é um movimento interior produzido pelo Espírito de Deus que deve levar a pessoa a viver segundo sua fé.

A fé cristã é trinitária. Deus é Pai, é Filho, é Espírito Santo. “Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor (1 Jo 4, 8). Quem ama compreende a Trindade.

Toda pessoa é criada à imagem do próprio Deus vivo. Portanto, todo ser humano é reflexo da Trindade como fonte de amor. Amar é agir como Deus.

Jesus de Nazaré não se perde em definições sobre o que é o amor, mas mostra como se deve amar de verdade. E a verdade se verifica no fazer: “Vai, e faça o mesmo” (Lc 10, 37).

A fé cristã é sempre encarnada no tempo e no espaço. É preciso ver o que está acontecendo à humanidade com os olhos de amor da Trindade. Ver como Deus vê para não desviar o olhar daquilo que realmente importa para Deus. É espiritualidade dos olhos bem abertos.

Viver o que se reza e que se crê, no cotidiano, deveria ser natural ao cristão. Não é possível entrar no ‘mistério de Deus’ sem antes descobrir que este Deus está comprometido aqui e agora com nossa história e nossa realidade. O mundo, as pessoas, os fatos, fazem parte misteriosamente da vida de Deus que se humanizou e habitou entre nós. A experiência cristã de Deus é encarnada na realidade.

Nosso ser e nosso agir é a forma por excelência de testemunhar o amor de Deus por todas suas criaturas. Pois, “o que é que resta? O que é que tem valor na vida? Quais são as riquezas que não desaparecem? Seguramente duas: o Senhor e o próximo. Estas duas riquezas não desaparecem” (Gaudete et exultate, n. 60).

O cristianismo é uma religião ética. E a ética é um ato de religião: “amai-vos como Eu vos amei” (Jo 13,34). Quando amamos de verdade, já não somos apenas nós que amamos. É Deus amando em nós.

Todo movimento em direção ao outro vai consolidando nossa identidade, configurando personalidade e mais, vai revelando ao mundo a nossa versão daquilo que acreditamos o que é viver como humanos.

Uma sociedade melhor somente se faz com pessoas melhores.

Portanto, não faças aos outros aquilo que, se fizessem a você, te causaria tristeza e sofrimento. “Tudo o que quereis que os outros vos façam, fazei também a eles” (Lc,6-31).

 

Élio Gasda, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da FAJE

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