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Tecnologia: presente e futuro da humanidade

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Elton Vitoriano Ribeiro e Carlos Barth

As relações e interações entre teologia, filosofia e tecnologia são o tema do Simpósio Internacional da Faculdade Jesuíta de 2024. Falar de tecnologia é abordar o passado, o presente e o futuro da humanidade. Ao longo de sua história, indivíduos e sociedades precisaram aprender a lidar com os riscos e benefícios dos avanços tecnológicos de seu tempo, tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo. Hoje não é diferente, pois essa é uma tarefa contínua.

Por um lado, a tecnologia se apresenta como um caminho para potenciais avanços e melhorias em múltiplos níveis. A internet e os dispositivos móveis revolucionaram a forma como nos comunicamos e acessamos informações. A realidade virtual promete transformar a maneira como interagimos com o mundo, tornando possíveis experiências inovadoras. Na mesma linha, a inteligência artificial está sendo utilizada em várias áreas para automatizar tarefas e tornar processos mais eficientes. Além disso, ela deve se tornar cada vez mais sofisticada e integrada em nossas vidas, auxiliando em tarefas diárias e contribuindo para o desenvolvimento de outros ramos de atividade. Tais avanços afetam, por exemplo, a pesquisa científica, a medicina, a indústria farmacêutica, os transportes, as comunicações, o entretenimento, a educação, dentre outras áreas.

Por outro lado, esse rápido avanço e a forma veloz, capilarizada e profunda com que as tecnologias contemporâneas se imiscuem na vida cotidiana geram desafios inéditos. Cada vez mais, nossas atividades e necessidades diárias dependem de aparatos tecnológicos recentes. Nesse sentido, a tecnologia cria e influencia processos e costumes, transforma formas de produzir e usufruir bens e riquezas, reconfigura modos de vida. Isso afeta tanto as relações entre indivíduos quanto entre indivíduos e instituições. Resulta disso uma tendência crescente de pensar e valorizar o mundo em função de categorias tecnológicas, e isso tem implicações profundas. Como percebe Lima Vaz, a incidência da tecnologia em nossas vidas produz “uma revolução profunda e silenciosa, cujos efeitos visíveis e ruidosos acabam por ocultar sua verdadeira natureza e seu alcance, que está em curso há pelo menos dois séculos nas camadas elementares do psiquismo e nos fundamentos das estruturas mentais do indivíduo da civilização ocidental” (Lima Vaz, Esquecimento e Memória do Ser: sobre o futuro da Metafísica, Revista Síntese, 2000, p.149).

Em consonância, no último discurso do Papa Francisco aos membros da Pontifícia Academia para a Vida (20/02/2023), ele destacou que a relação entre pessoas, tecnologias e bem comum é uma fronteira delicada na qual se encontram progresso, ética, religião e sociedade. O Papa propôs em seu discurso uma reflexão sobre três desafios presentes em nossa sociedade: a mudança das condições de vida do ser humano no mundo tecnológico; o impacto das novas tecnologias na própria definição do que significa ser humano e sua relação com a condição dos sujeitos mais vulneráveis; e, por fim, o conceito de conhecimento e suas consequências.

Nesse cenário, o objetivo central do Simpósio é contribuir para um uso responsável da tecnologia, enfrentando diretamente os dilemas e os desafios que ela nos apresenta. Seus benefícios devem estar sempre a serviço da pessoa humana e do bem social. Para que caminhemos nessa direção, é necessária uma reflexão cada vez mais abrangente, profunda e esclarecedora. Com isso, será possível deixar de tomar a tecnologia como fonte de receio e angústia para compreendê-la como uma companheira de caminhada imprescindível.

Elton Vitoriano Ribeiro SJ é professor e pesquisador no departamento de Filosofia, e reitor da FAJE

Carlos Barth faz Pós-doutorado em Filosofia na FAJE

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